Um estudo recente divulgado pela Croplife e pela consultoria Céleres aponta que a pirataria de sementes de soja no Brasil causa um prejuízo anual de cerca de R$ 10 bilhões. Essa quantia considera a perda de receita em toda a cadeia produtiva do insumo agrícola. A pesquisa também destaca que o uso de sementes ilegais impacta diretamente na produtividade das lavouras.
A utilização de sementes não certificadas torna as plantações mais vulneráveis a pragas e doenças. O estudo revelou que, na safra 2023/24, as sementes piratas de soja ocuparam 11% da área plantada no Brasil, o que corresponde a mais de 4 milhões de hectares. Essa área é equivalente ao plantio de soja em Mato Grosso do Sul na mesma temporada, quando o país semeou 46,15 milhões de hectares.
Anderson Galvão, diretor da Céleres, enfatizou a importância da semente para o sucesso da lavoura. Segundo ele, o uso de sementes legais e certificadas, produzidas por empresas registradas no Ministério da Agricultura, poderia resultar em um ganho adicional de 4 sacas de soja por hectare. Em comparação, a produtividade média nacional em 2023/24 foi de aproximadamente 53 sacas/hectare, conforme dados da Conab.
O levantamento aponta que, com o uso de sementes certificadas, a produção brasileira poderia ter um acréscimo de mais de 1 milhão de toneladas na safra 2023/24, que foi afetada por problemas climáticos. Além disso, o uso de sementes com tecnologias avançadas pode tornar as lavouras mais resistentes a essas adversidades climáticas, impulsionando a competitividade do Brasil no mercado global.
O estudo também dividiu as sementes utilizadas no Brasil em três categorias: certificadas (67%), “salvas” (22%) e piratas (11%). As sementes “salvas” são aquelas reservadas pelos agricultores e registradas junto ao governo. Galvão comentou que, mesmo as sementes “salvas”, apresentam um desempenho inferior em comparação com as certificadas devido à menor tecnologia embarcada.
A erradicação da pirataria de sementes de soja poderia gerar um aumento de R$ 4 bilhões na receita do setor de produção de sementes e R$ 2,5 bilhões para os agricultores, segundo a Croplife. Adicionalmente, a agroindústria de farelo e óleo de soja poderia faturar mais R$ 1,2 bilhão, e as exportações do agronegócio teriam um acréscimo de R$ 1,5 bilhão.
Galvão também ressaltou que, em estados com maior adoção de sementes “salvas” e não certificadas, há uma maior incidência de plantas daninhas resistentes, o que impacta a produtividade, especialmente em períodos de clima adverso. Ele citou o Rio Grande do Sul, onde 48% das sementes utilizadas são “salvas”, prática associada a questões culturais e à busca por economia de curto prazo.
O especialista explicou que as sementes “salvas” apresentam perdas de qualidade e danos mecânicos, comprometendo o potencial produtivo na safra seguinte. Eduardo Leão, diretor-presidente da Croplife, defendeu que o uso de tecnologias avançadas nas sementes certificadas pode auxiliar o setor a enfrentar os efeitos das mudanças climáticas.
As sementes certificadas pagam royalties de biotecnologia e germoplasma, enquanto as “salvas” pagam apenas o primeiro. Galvão defendeu a necessidade de aprimorar a legislação para equiparar as cobranças e incentivar o uso de sementes certificadas, que oferecem maior produtividade e resiliência.
Via InfoMoney