No cenário globalizado, a busca por economia e acesso a produtos de qualidade tem levado consumidores a explorar novas formas de comprar direto da fábrica. Recentemente, uma tendência tem ganhado força nas redes sociais, com fabricantes chineses buscando alcançar o público americano diretamente. Essa estratégia surge em um momento de tensões comerciais e ameaças de tarifas elevadas, impulsionando os consumidores a buscar alternativas para manter o acesso a bens de consumo a preços acessíveis.
Através de plataformas como TikTok e Instagram, fabricantes chineses têm divulgado vídeos que mostram a produção de itens como leggings, bolsas e calçados. A proposta é simples: oferecer produtos semelhantes aos de marcas renomadas, como Lululemon, Hermès e Birkenstock, mas por uma fração do preço. Em alguns casos, alega-se, nem sempre com precisão, que os produtos são feitos nas mesmas fábricas que atendem as grandes marcas.
Influenciadores americanos têm se juntado a essa tendência, divulgando fábricas e aplicativos de compras chineses, como DHGate e Taobao. O objetivo é claro: economizar caso as tarifas sobre importações chinesas aumentem. O aplicativo DHGate, por exemplo, chegou a figurar entre os dez mais baixados nas lojas da Apple e do Google. A popularidade desses vídeos nas redes sociais é inegável, com milhões de visualizações e milhares de curtidas, gerando discussões sobre a relação comercial entre China e Estados Unidos.
Essa iniciativa representa uma oportunidade para os fabricantes chineses se comunicarem diretamente com os consumidores americanos, utilizando redes sociais que, ironicamente, são restritas na China. A crescente adesão a esses vídeos demonstra um apoio à China nas redes, semelhante ao que ocorreu durante as discussões sobre a possível proibição do TikTok pelo governo americano.
Segundo Margot Hardy, analista da Graphika, houve um aumento significativo no número de vídeos no TikTok incentivando a compra direto da fábrica chinesa, com um crescimento de quase 250% em uma semana. A hashtag #ChineseFactory acumulou milhares de publicações no TikTok e no Instagram, mostrando o alcance dessa estratégia.
Especialistas do varejo alertam que é improvável que os vídeos mais populares, que afirmam fabricar produtos para marcas como Lululemon e Hermès, vendam produtos autênticos. Sucharita Kodali, analista de varejo da Forrester, explica que essas fábricas geralmente têm acordos de confidencialidade e dificilmente arriscariam suas relações com grandes marcas.
Apesar das dúvidas sobre a autenticidade dos produtos, a demanda continua alta. Elizabeth Henzie, uma consumidora de 23 anos, criou uma planilha com fábricas que vendem réplicas de tênis, bolsas de luxo e outros produtos, e compartilhou em seu perfil no TikTok, alcançando mais de um milhão de visualizações. Henzie agora é parceira afiliada da DHGate, recebendo produtos e comissões por vendas geradas através de seus links.
O TikTok informou que está removendo alguns dos vídeos que promovem produtos falsificados, mas muitos continuam circulando através de republicações. Vendedores na China afirmam que começaram a divulgar os vídeos após uma queda nas vendas. Yu Qiule, proprietário de uma fábrica de equipamentos de fitness, passou a usar o TikTok para encontrar clientes após cancelamentos de pedidos devido às tarifas.
Louis Lv, gerente de exportações da Hongye Jewelry Factory, também relatou um aumento nas visualizações de seus vídeos após o anúncio das tarifas. Em um dos vídeos mais populares, um homem mostra o que seria uma bolsa Birkin da Hermès e revela os custos de produção em uma fábrica, alegando que a bolsa custa menos de US$ 1.400 para ser fabricada, enquanto a Hermès vende o item por US$ 38.000.
Em resposta, a Hermès afirmou que suas bolsas são 100% fabricadas na França e a Birkenstock informou que os vídeos mostram réplicas e que seus calçados são produzidos na União Europeia, além de terem contatado o TikTok para remover os vídeos.
Via InfoMoney