Economistas apontam governo, e não BC, como responsável por dívidas caras

Especialistas afirmam que o governo, e não o Banco Central, é o principal responsável pelos juros elevados no Brasil. Entenda o motivo.
27/04/2025 às 19:32 | Atualizado há 5 meses
Dívida do governo
Estímulos fiscais excessivos e crédito ampliado reduzem impacto da política monetária. (Imagem/Reprodução: Infomoney)

A política monetária restritiva tem levado o governo a arcar com juros mais altos, gerando um debate sobre como o país pode equilibrar as contas. Economistas e a equipe econômica, incluindo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendem que o governo auxilie o Banco Central (BC) no controle da inflação, buscando o menor patamar de juros possível. Essa estratégia visa mitigar o impacto no serviço da dívida do governo.

No entanto, o mercado financeiro avalia que os estímulos fiscais e as recentes medidas de crédito têm comprometido a eficácia da política monetária. Essas ações sustentam o consumo, mas também elevam o estresse dos investidores em relação à trajetória da dívida. Consequentemente, o BC é pressionado a aumentar ainda mais os juros, o que agrava o impacto no serviço da dívida pública.

As injeções de dinheiro na economia, que vão na contramão da política do BC de elevar os juros, forçam a autoridade monetária a enxugar a liquidez com mais operações compromissadas. A venda de títulos públicos com compromisso de recompra futura entra no cálculo da dívida, aumentando-a.

De acordo com economistas do BTG Pactual, se 2% do Produto Interno Bruto (PIB) fosse destinado ao pagamento de juros, a dívida pública poderia se estabilizar em 90% em 2034. No cenário atual, sem economia para pagar juros, o mercado prevê que a dívida do governo continuará crescendo nos próximos anos, ultrapassando 93% em 2033.

Jeferson Bittencourt, ex-secretário do Tesouro, explica que, ao fazer o resultado primário, o governo paga parte da dívida com o que poupou, gerando expectativas de sustentabilidade e contribuindo para a queda da taxa de juros. Sem essa dinâmica, o crescimento da dívida será acelerado.

O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, defende o resgate do teto dos gastos para que o Brasil tenha juros em níveis mais civilizados. Já o ex-presidente do BC, Armínio Fraga, sugere o congelamento do salário mínimo por seis anos, medida que também impactaria os pisos previdenciários.

Após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, a regra que impedia o aumento das despesas públicas acima da inflação reduziu os pagamentos de juros, que estavam em 8,37% do PIB em 2015, para abaixo da média histórica em três anos. Em 2018, os juros representavam menos de 6% do PIB para o setor público.

A equipe econômica do governo atual descarta a reedição do teto dos gastos, considerando-o inviável devido ao orçamento engessado por gastos obrigatórios. As expectativas são de que o setor público continuará gastando mais do que arrecada nos próximos anos, sem medidas estruturais no curto prazo, dificultando a geração de superávits primários para equilibrar a dívida do governo.

Pedro Schneider, especialista em contas públicas do Itaú Unibanco, ressalta que ter juros menores depende de um governo que gaste menos. A credibilidade é fundamental, pois juros reais de 10% geram problemas fiscais em qualquer país. A perda de credibilidade do arcabouço fiscal agrava esse quadro.

Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, aponta que a emissão de títulos pós-fixados pelo Tesouro ajudou a financiar o governo, mas essa estratégia tem um custo para o BC, pois o maior retorno obtido por detentores desses papéis estimula a demanda agregada, prejudicando a política monetária.

Salto, que já foi diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), conclui que a gestão da dívida só melhorará com o avanço na agenda de ajuste fiscal, alongando o prazo e reduzindo os custos médios.

Via InfoMoney

Artigos colaborativos escritos por redatores e editores do portal Vitória Agora.