A transição de Warren Buffett do cargo de CEO da Berkshire Hathaway marca o fim de uma era e levanta questões importantes sobre o futuro da empresa em relação às mudanças climáticas. Buffett, conhecido por suas estratégias de investimento pragmáticas, deixa um legado climático de Buffett complexo, equilibrando investimentos em energia limpa com participações significativas em combustíveis fósseis. O desafio agora é como seu sucessor irá navegar este cenário.
A Berkshire Hathaway, sob a liderança de Buffett, investiu consideravelmente em energia eólica e solar, com a MidAmerican Energy construindo um vasto portfólio de parques eólicos que fornecem energia para Iowa e estados vizinhos. Em 2023, essas turbinas eólicas representaram mais de 60% da capacidade de geração da empresa, demonstrando um compromisso com fontes de energia renováveis.
Durante a reunião anual de acionistas da Berkshire, Greg Abel, o sucessor de Buffett, destacou o investimento de US$ 16 bilhões em energias renováveis em Iowa para desativar cinco usinas de carvão. Apesar disso, Abel ressaltou a necessidade de manter outras cinco usinas de carvão em operação para garantir a estabilidade do sistema, indicando uma abordagem cautelosa na transição energética.
Apesar de reconhecer os riscos da mudança climática, a Berkshire Hathaway continuou a investir em empresas de petróleo e gás como Occidental Petroleum e Chevron, além de adquirir ativos de gás da Dominion Energy em 2020. Esses investimentos em combustíveis fósseis contrastam com o crescente movimento global em direção a práticas mais sustentáveis e investimentos ESG.
O analista da Edward Jones, Jim Shanahan, sugeriu que a Berkshire Hathaway busca aumentar seus investimentos em energias renováveis, mas reconhece que essa transição levará tempo. A aquisição dos ativos da Dominion Energy foi vista como uma aposta de que a transição para energias renováveis não ocorrerá tão rapidamente quanto alguns preveem.
Matthew Palazola, analista da Bloomberg Intelligence, observou que o investimento ESG não parece ser uma prioridade alta para a Berkshire Hathaway, que vê a energia como uma necessidade essencial para a sociedade. Durante a reunião anual, Greg Abel afirmou que a empresa colabora com os estados para seguir seus planos e cumprir os padrões federais.
Em 2022, Abel elogiou os negócios da Berkshire Hathaway, afirmando que estavam bem posicionados para atender às expectativas dos clientes em relação à sustentabilidade. No entanto, desde então, a introdução do ChatGPT e o possível retorno de Donald Trump à Casa Branca, transformaram as expectativas sobre a demanda de energia e as políticas climáticas.
Ainda assim, a Berkshire Hathaway não está imune aos impactos da mudança climática. Em seu relatório de 2024, a empresa estimou que seu grupo de seguros poderia ter perdas de US$ 1,3 bilhão devido aos incêndios florestais na Califórnia, eventos que foram intensificados pelo aquecimento global.
Em sua carta anual aos acionistas em fevereiro, Buffett mencionou que os preços dos seguros de propriedade e acidentes aumentaram em 2024, refletindo um aumento nos danos causados por tempestades convectivas. Ele alertou que a mudança climática pode estar causando perdas de seguros maiores e mais frequentes.
O legado climático de Buffett na Berkshire Hathaway é, portanto, um misto de investimentos em energia limpa e dependência contínua de combustíveis fósseis. O desafio para seu sucessor será equilibrar a necessidade de fornecer energia acessível e confiável com a crescente pressão para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar os impactos da mudança climática.
Via InfoMoney