Justiça climática: causa ou oportunidade? Duas gestoras investem na tese

Descubra como a justiça climática está sendo vista como oportunidade por gestoras de investimento no Brasil.
11/05/2025 às 09:03 | Atualizado há 4 meses
Justiça climática no Brasil
12 de 374 instituições priorizam justiça climática nas Américas. (Imagem/Reprodução: Infomoney)

O conceito de Justiça climática no Brasil ainda é pouco explorado no mercado financeiro, contrastando com o crescente interesse de ativistas socioambientais. Apesar do mercado de investimentos de impacto globalmente alocar cerca de US$ 1,5 trilhão, a **justiça climática** permanece um critério marginal para a maioria dos investidores. No cenário brasileiro, algumas gestoras como a Fama re.capital e Vox Capital destacam-se ao incorporar essa tese em suas estratégias.

Um estudo conduzido pelo Laboratório de Inovação em Justiça Climática, divulgado no Relatório Inovações em Justiça Climática da Climate Ventures, identificou 374 instituições financeiras focadas no financiamento climático nas Américas. Surpreendentemente, apenas 12 dessas instituições adotam explicitamente a “justiça climática” como um princípio essencial na alocação de seus recursos. No Brasil, apenas a Fama re.capital e a Vox Capital se enquadram nesse critério.

Daniel Contrucci, cofundador e diretor executivo da Climate Ventures, observa que “justiça climática é uma causa, mas ainda não é uma oportunidade de mercado”. A Climate Ventures tem trabalhado para transformar essa visão, reunindo especialistas para definir o conceito e promovê-lo como uma agenda transversal em diversos setores, especialmente em um contexto onde a relevância do ESG tem sido questionada. A “transição justa” surge como um termo alternativo para facilitar esses diálogos.

Sarah Siqueira, gerente do Laboratório, ressalta que o objetivo principal é impulsionar o desenvolvimento de negócios que gerem impactos positivos nas comunidades, com a capacidade de mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Essa abordagem oferece aos gestores de venture capital (VC) a oportunidade de assumir “riscos de verdade” a longo prazo.

A Vox Capital, inicialmente focada em questões sociais, expandiu seu olhar para a questão climática de forma integrada há cerca de seis anos, segundo Gilberto Ribeiro. A gestora busca entender como a transição climática pode ser socialmente inclusiva. Uma tentativa inicial de lançamento de um fundo de investimento nas cadeias produtivas agroindustriais (Fiagros), com foco na restauração do solo no cerrado por famílias cooperadas da Cocamar, não obteve sucesso devido à falta de captação. No entanto, o fundo de VC, Tech For Good Growth I, possui investimentos com impacto climático e social, como a Octa, um marketplace de circularidade na cadeia automotiva, e a Nude, empresa de bebidas e alimentos de origem vegetal.

Ribeiro destaca o desafio para empreendedores em mercados pouco preparados para negócios sustentáveis, especialmente porque a transição exige qualificação, capital e tecnologia. Ele argumenta que, embora as soluções sustentáveis possam ser mais caras, o subsídio e a inovação são cruciais para superar barreiras, criando oportunidades para quem conseguir desbloquear valor.

Na Fama re.capital, o FamaGaia Sociobioeconomia FIDC IS oferece crédito para pequenos produtores rurais que contribuem para a redução dos impactos negativos da mudança climática, impulsionando a economia local e reduzindo as desigualdades sociais. Andrea Alvares, líder do FIDC, informa que nove projetos já foram financiados. Para Alvares, a justiça climática é o reconhecimento de que as pessoas que menos contribuem para as emissões são as que mais sofrem as consequências, e o FIDC busca corrigir essas assimetrias através do fortalecimento das comunidades locais.

A Fama re.capital também trabalha com grandes empresas, investindo para engajá-las em processos de descarbonização. Caroline Dihl Prolo, sócia e responsável pelo stewardship climático, afirma que o objetivo é resolver o problema climático com os grandes causadores, integrando aspectos de justiça climática, especialmente na forma como as empresas se relacionam com suas cadeias de suprimentos.

O cenário atual revela um crescente interesse em justiça climática no Brasil, impulsionado por gestoras que buscam integrar critérios sociais e ambientais em suas estratégias de investimento. A necessidade de subsídios e inovação para superar barreiras financeiras e a importância de engajar grandes empresas na descarbonização são desafios que, se superados, podem abrir novas oportunidades no mercado financeiro.

Via InfoMoney

Artigos colaborativos escritos por redatores e editores do portal Vitória Agora.