Contrariando antigas suposições, um estudo recente revelou que a pele escura dos europeus prevaleceu por muito mais tempo do que se imaginava. A pesquisa, focada na análise de DNA de antigos habitantes da Europa, desafia a ideia de que a adaptação à pele clara ocorreu logo após a chegada dos primeiros Homo sapiens no continente.
Cientistas da Universidade de Ferrara, na Itália, realizaram uma análise detalhada do DNA de humanos que viveram na Europa entre 45 mil e 1700 anos atrás. Os resultados mostraram que 63% dos indivíduos analisados possuíam pele escura, enquanto apenas 8% apresentavam pele clara. Os 29% restantes exibiam uma tonalidade intermediária.
Para determinar o tom de pele dos primeiros europeus, os cientistas empregaram métodos da ciência forense, tradicionalmente usados na identificação de suspeitos de crimes a partir de amostras de DNA. Esta abordagem inovadora permitiu estimar a cor da pele, dos olhos e dos cabelos de espécimes antigos de Homo sapiens encontrados na Europa.
Os pesquisadores italianos analisaram 348 genomas de europeus antigos, previamente sequenciados por outros cientistas. Esses dados possibilitaram um estudo abrangente das adaptações sofridas pelos europeus desde a migração dos primeiros Homo sapiens da África para a Europa. Entre 45 mil e 13 mil anos atrás, 11 dos 12 genomas analisados eram de indivíduos com pele escura.
Entre 10 mil e 4 mil anos atrás, dos 93 humanos modernos analisados, 63 tinham pele escura. A mudança começou a ocorrer apenas na Era do Bronze, há cerca de 3 mil anos. Em 2018, pesquisadores britânicos já haviam descoberto que o Homem de Cheddar, que viveu há 10 mil anos no Reino Unido, tinha pele escura e olhos azuis esverdeados.
A mudança na pigmentação da pele escura dos europeus pode estar relacionada a alterações na dieta humana. Nina Jablonski, da Universidade Estadual de Pensilvânia, sugeriu que os caçadores-coletores do Paleolítico obtinham vitamina D suficiente através de sua dieta rica em carne de animais selvagens. Com a transição para sociedades agrícolas, a necessidade de sintetizar vitamina D a partir da luz solar aumentou, favorecendo a seleção de pele mais clara.
Sérgio D. J. Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explicou que a noção de raça como divisão biológica é uma construção socioeconômica, não refletindo a diversidade humana. As pesquisas mostram que a humanidade é uma grande família, e que nossa diversidade é uma conquista biológica a ser celebrada.