Em 2013, o casal Izabelly e Etevaldo Miranda desenvolveu um modelo de negócio de cuidadores domiciliares em Natal, no Rio Grande do Norte, em apenas 40 dias. A ideia surgiu quando Izabelly, então estagiária de enfermagem, percebeu a dificuldade que muitos pacientes enfrentavam ao precisar de assistência em casa após a alta hospitalar. A escassez de cuidadores qualificados destacou a necessidade de um serviço confiável. Etevaldo, advogado e empreendedor, validou a proposta, realizou uma pesquisa de mercado, registrou a empresa e criou a primeira unidade da Cuidare em um mês.
“Quando eu acredito num projeto, eu toco. Não fico esperando a hora ideal”, diz Etevaldo. Atualmente, a Cuidare opera com 74 unidades em 19 estados e no Distrito Federal, conta com mais de 400 cuidadores apenas em Natal e alcançou um faturamento anual de R$ 120 milhões. O objetivo para 2025 é expandir para 100 franquias ativas, com uma projeção de receita de R$ 170 milhões.
Nos primeiros três anos, a Cuidare cresceu de maneira orgânica, consolidando sua posição de liderança em Natal, mesmo enfrentando concorrência. A cidade possuía seis concorrentes, mas o negócio prosperou, mesmo com a maioria da população composta por servidores públicos. Etevaldo observou: “Se dava certo em Natal, com renda média mais baixa, imagine no interior de São Paulo”. Após essa observação, resolveu adaptar o modelo para o franchising, e com a ajuda de uma consultoria, estruturou a franquia em seis meses.
No entanto, a entrada no mercado de franquias não ocorreu sem desafios. O sotaque e o DDD da empresa causaram receios em potenciais franqueados. Nos primeiros quatro meses, Etevaldo atendeu interessados e rapidamente percebeu a desconfiança local: “As duas primeiras perguntas eram: ‘de onde é seu sotaque?’ e ‘por que o número começa com 84?’”. No entanto, a contratação de um escritório especializado resultou em um impacto positivo, com 16 franquias vendidas em seis meses.
A empresa exige que seus cuidadores possuam formação técnica em enfermagem – um curso de dois anos. Ao contrário de muitos concorrentes que aceitam formações mais simples, a Cuidare busca garantir um padrão alto de qualificação. No entanto, Etevaldo reconhece que encontrar profissionais competentes e confiáveis é um desafio constante. “Dois ou três ficam entre dez que a gente treina. O cuidado humanizado exige mais do que técnica”, ressalta.
Adicionalmente, a informalidade no setor gera preocupação. Etevaldo aponta que várias empresas oferecem planos 24 horas a preços muito abaixo dos custos da Cuidare. Em Natal, um plano com quatro cuidadores custa R$ 9 mil, enquanto outras empresas oferecem por R$ 3,5 mil, o que compromete a segurança e a estrutura do serviço. Para reter bons profissionais, a Cuidare propõe uma remuneração que supera em 40% a dos concorrentes.
O modelo de negócio da Cuidare visa atender um número restrito de clientes, mas com alta rentabilidade, focando predominantemente nas classes A e B. Em São Paulo, o custo de um plano domiciliar pode atingir até R$ 12 mil mensais. Com uma base de 40 a 50 clientes, qualquer unidade se torna rentável. A franqueadora tem visto vários perfis de franqueados, incluindo médicos, enfermeiros e casais que gerenciam juntos as operações.
Atualmente, a Cuidare já está presente em 20 estados do Brasil. A empresa nutre planos de expansão em cidades com mais de 40 mil habitantes, onde acredita que a estrutura e os custos são favoráveis. Além disso, a empresa considera iniciar operações em outros países, aproveitando uma tendência global: a população idosa no Brasil irá dobrar nos próximos 20 anos, um padrão que já é observado em diversas nações.
Via Exame