No cenário atual da agricultura regenerativa, a Climate Farmers, organização sem fins lucrativos sediada em Berlim, tem como objetivo expandir a agricultura regenerativa na Europa, construindo infraestrutura para apoiar os agricultores na transição para práticas sustentáveis. A organização surpreendeu o mercado ao anunciar seu afastamento dos mercados de créditos de carbono, focando em alternativas que melhor apoiem a regeneração do solo e a sustentabilidade a longo prazo.
Ivo Degn, cofundador da Climate Farmers, explica que a decisão não questiona a missão original, mas reconhece que o mercado de créditos de carbono não foi estruturado para impulsionar a regeneração de forma eficaz. A Climate Farmers tem se dedicado a construir infraestrutura para apoiar os agricultores na transição para práticas que restauram o solo, retêm água, promovem a biodiversidade e capturam carbono de forma mais eficiente.
Essa mudança ocorre em um momento de revisão do sistema alimentar global, onde a volatilidade climática e as dificuldades financeiras dos agricultores impulsionam a busca por alternativas. A agricultura regenerativa surge como um caminho promissor, embora ainda não totalmente compreendido. Um estudo recente da Aliança Europeia para a Agricultura Regenerativa (EARA) indica que a ciência está começando a validar esse potencial, com dados que comprovam a eficácia da agricultura sustentável.
A pesquisa da EARA, que avaliou 78 fazendas regenerativas em 14 países europeus, revelou que essas propriedades superam as convencionais em termos de produtividade, resiliência e uso eficiente de recursos. Isso desafia a crença de que apenas a agricultura intensiva com insumos químicos é capaz de alimentar o mundo, apresentando dados que sustentam a agricultura regenerativa como uma alternativa viável e sustentável.
Apesar de a agricultura regenerativa apresentar-se como uma opção mais produtiva e sustentável, o apoio, especialmente por meio dos mercados de carbono, ainda é limitado. A Climate Farmers acredita que o problema não é pagar os agricultores por resultados ecológicos, mas sim a forma como o carbono no solo é medido, modelado e monetizado nos sistemas de créditos de carbono.
Ivo Degn ressalta que a ciência disponível sobre o carbono no solo ainda carece de precisão. Os modelos atuais geralmente consideram apenas os 30 centímetros superiores do solo, ignorando os exsudatos radiculares, que são essenciais para a vida microbiana e a regeneração do solo. Essa deficiência não é apenas técnica, mas estrutural, uma vez que muitos protocolos simulam resultados em vez de medir mudanças concretas.
A amostragem direta do solo também é instável, pois os níveis de carbono variam com as condições climáticas. Um agricultor que adota os melhores métodos regenerativos pode ser penalizado por uma seca prolongada, o que cria uma desconexão entre as ações e os pagamentos recebidos, penalizando-o não por práticas inadequadas, mas por fatores externos.
Diante disso, a Climate Farmers questiona se o sistema está adaptado à realidade ou se a realidade está sendo distorcida para se encaixar no sistema de créditos de carbono. A organização acredita que o mercado de carbono recompensa a escala em vez da regeneração, tornando a integridade excessivamente custosa.
Para a Climate Farmers, o solo é mais do que um meio de produção agrícola, é a infraestrutura essencial dos sistemas alimentares, hídricos e climáticos. No entanto, um relatório da ONU de 2022 estima que mais da metade das terras agrícolas globais estão degradadas, com perdas anuais que podem atingir 90 bilhões de euros até 2050, segundo a Comissão Europeia.
Lisa Sachs, diretora do Centro de Investimentos Sustentáveis da Universidade Columbia, concorda com a importância de financiar o uso regenerativo da terra, mas questiona se os mercados de carbono são a ferramenta apropriada. Ela argumenta que o modelo de mercado voluntário de carbono é falho, pois a maioria dos créditos é comprada para compensar emissões contínuas, apoiando-se na ficção de que emissões em um local podem ser neutralizadas por ações baseadas apenas em carbono em outro.
Em vez de buscar compensações, a Climate Farmers concentra-se em métricas ecológicas que refletem resultados reais. Degn sugere basear os pagamentos por resultados em métricas robustas obtidas por satélite, como fotossíntese anual, cobertura do solo e diversidade vegetal, que são mais alinhadas com os objetivos ecológicos da agricultura regenerativa e reduzem a burocracia.
O mercado voluntário de carbono, avaliado em apenas US$ 2 bilhões, não é suficiente para apoiar algo tão interconectado como o solo. A regeneração exige coordenação em nível de paisagem e estratégias de investimento público que financiem sistemas inteiros, não apenas artifícios contábeis.
Via Forbes Brasil