A **Lagoa da Conceição**, em Florianópolis, é um dos cartões postais mais famosos da cidade. Recentemente, um estudo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) revelou a presença de 35 tipos de contaminantes na água, gerando preocupação. Entre as substâncias encontradas, destacam-se cafeína, antibióticos e, surpreendentemente, altos níveis de cocaína. A descoberta coloca a **Lagoa da Conceição** em destaque nas discussões sobre a qualidade da água e os impactos do esgoto doméstico.
A pesquisa da UFSC identificou diversos contaminantes na **Lagoa da Conceição**, incluindo cafeína, antibióticos, anti-inflamatórios e analgésicos. A presença de cocaína, com concentrações consideradas entre as mais altas do mundo, foi o que mais chamou a atenção. Segundo Silvani Verruck, professora da UFSC, a quantidade expressiva de cocaína é um resíduo comum na América Latina, mas os níveis encontrados na lagoa são alarmantes.
Derivados e metabólitos da cocaína foram detectados em 63% das amostras analisadas, indicando uma presença constante e significativa da substância. A pesquisa em Florianópolis teve início após um grave incidente em 2021, quando uma lagoa de tratamento se rompeu, causando o alagamento de residências e ruas com esgoto sanitário. O estudo faz parte do Programa de Recuperação Ambiental da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), visando avaliar e mitigar os impactos ambientais do acidente e do aumento do turismo.
A equipe de pesquisa optou por analisar os chamados contaminantes emergentes, que são substâncias de uso cotidiano, como cosméticos, medicamentos e produtos de higiene pessoal. Para detectar esses contaminantes, foi utilizada uma metodologia capaz de identificar 165 substâncias simultaneamente. A cafeína apresentou a maior concentração, seguida pelos antibióticos ciprofloxacina e clindamicina, e pelo anti-inflamatório diclofenaco.
As concentrações desses compostos são medidas em nanogramas, o que equivale a um bilionésimo de grama. Apesar de serem quantidades muito pequenas, a falta de limites de segurança bem definidos para a exposição a essas substâncias gera preocupação. A contaminação pode afetar diretamente a saúde humana, além de ter efeitos indiretos nos animais e plantas aquáticas. Estudos anteriores já constataram a presença de cocaína em tubarões na costa brasileira, mostrando que a contaminação pode se espalhar pela cadeia alimentar.
O estudo publicado na revista Science of the Total Environment ressalta a importância de monitorar continuamente a acumulação desses compostos em alimentos consumidos pela população local, a fim de avaliar possíveis impactos na saúde humana. Os níveis de poluição são mais elevados próximos à estação de tratamento da Lagoa de Evapo Infiltração da Casan. Silvani Verruck enfatiza a necessidade de regulamentar essas moléculas, estabelecendo limites claros para evitar que saiam das estações de tratamento em concentrações prejudiciais, e de realizar um acompanhamento regular para minimizar os riscos.
O laboratório da UFSC também está buscando soluções para melhorar o tratamento da água, como o REACQUA, um sistema que remove diversos contaminantes utilizando apenas energia solar. Em testes, o REACQUA eliminou todas as impurezas das amostras de água da **Lagoa da Conceição**. Essa tecnologia representa uma alternativa mais barata e eficiente em relação ao uso de membranas, que são caras e demandam altos custos.
A descoberta de altos níveis de cocaína e outros contaminantes na **Lagoa da Conceição** serve como um alerta para a necessidade de aprimorar os sistemas de tratamento de esgoto e monitorar a qualidade da água. A saúde do ecossistema aquático e da população local dependem de medidas eficazes para mitigar a poluição e garantir um ambiente mais seguro e saudável.