O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) tomou uma decisão importante que afeta diretamente o bolso do consumidor e o futuro da matriz energética brasileira. A partir de 1º de agosto, as misturas de etanol e biodiesel nos combustíveis fósseis comercializados em todo o país serão elevadas, uma medida que já conta com o apoio dos produtores de biocombustíveis e promete impulsionar a autossuficiência do Brasil na produção de gasolina.
A nova determinação do CNPE eleva a proporção de etanol anidro na gasolina de 27% para 30%. No caso do diesel, a mistura obrigatória de biodiesel passará de 14% para 15%. O anúncio foi feito pelo secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Pietro Mendes, durante uma cerimônia que contou com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ressaltou que essa mudança nos mandatos dos biocombustíveis representará um marco histórico para o país. Segundo ele, o Brasil se tornará “autossuficiente em gasolina pela primeira vez em 15 anos”. Essa medida representa um passo importante para reduzir a dependência do país em relação às importações de combustíveis fósseis.
Essa não é a primeira vez que o governo discute o aumento da mistura de biocombustíveis. Em fevereiro, o CNPE havia adiado o aumento do biodiesel para 15%, previsto inicialmente para março, devido a preocupações sobre o impacto nos preços dos alimentos e na aprovação do governo. No entanto, testes realizados pelo Ministério de Minas e Energia em março indicaram que o aumento da mistura de etanol para 30% na gasolina apresenta “desempenho consistente” e “benefícios ambientais reais”.
Daniel Amaral, diretor da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), comentou que essa decisão posiciona o Brasil como um líder global no processo de descarbonização. A Agência Internacional de Energia (IEA) também reconhece o papel fundamental dos biocombustíveis na descarbonização do setor de transporte e na redução das emissões de gases de efeito estufa.
A Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio) destacou que, além dos benefícios ambientais e para a saúde pública, essa medida representa uma decisão estratégica para o desenvolvimento econômico nacional e para a redução da dependência de importação de derivados de petróleo. Amance Boutin, gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria Argus, acredita que o governo está confiante na capacidade da indústria de etanol de milho em atender à demanda.
Carlos Eduardo Hammerschmidt, vice-presidente do Grupo Potencial, enfatizou a importância do avanço do biodiesel para a segurança energética do Brasil, especialmente diante das recentes instabilidades geopolíticas. Ele ressaltou que o biodiesel é um vetor de desenvolvimento que alia sustentabilidade, geração de valor no campo e projeção internacional.
André Lavor, CEO da Binatural, considera que o movimento em direção ao B15 é um marco histórico, demonstrando que é possível conciliar desenvolvimento e sustentabilidade. Ele destaca que o avanço da mistura obrigatória do biodiesel significa menos emissões, mais empregos e renda para milhares de famílias da agricultura familiar.
É importante ressaltar que a elevação das misturas de etanol e biodiesel também tem impacto nos mercados de açúcar, milho e soja. O açúcar compete com a cana utilizada na produção de etanol, enquanto o milho é uma matéria-prima crescente para o biocombustível no Brasil. O óleo de soja, por sua vez, é a principal fonte para a produção de biodiesel, representando mais de 75% do total.
Pietro Mendes, do Ministério de Minas e Energia, explicou que o aumento da mistura dos combustíveis é crucial para a estabilidade geopolítica do Brasil e para a redução das importações, especialmente em um cenário de conflitos no Oriente Médio. Ele destacou que a elevação da mistura de etanol reduzirá o consumo de gasolina A em até 1,36 bilhão de litros e aumentará o consumo de etanol anidro em até 1,46 bilhão de litros.
Essa medida permitirá que o Brasil deixe de ser um importador líquido de gasolina e se torne um exportador, com um excedente de 700 milhões de litros por ano, considerando os atuais níveis de produção nacional. No caso do diesel, Mendes informou que o país importa 23% de diesel A, e a adoção do B15 é fundamental para a resiliência e segurança energética.
Via Forbes Brasil