O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, abordou a crise da democracia no Brasil durante uma aula magna na Faculdade de Direito da USP. O foco principal foi a influência das grandes empresas de tecnologia e sua relação com grupos de extrema-direita, destacando os desafios que essa aliança representa para a manutenção da democracia.
Moraes apontou a instrumentalização das redes sociais como uma estratégia de grupos econômicos e ideológicos de extrema-direita. O objetivo seria corroer a democracia por dentro, utilizando as plataformas para disseminar discursos que enfraquecem as instituições e polarizam a sociedade.
O ministro identificou o “populismo digital” como um fenômeno que busca a “doutrinação em massa” e a “lavagem cerebral”. Essa estratégia se aproveita da disseminação de informações distorcidas para influenciar a opinião pública e minar a confiança nas estruturas democráticas.
Moraes relacionou o ressurgimento do “discurso do ‘tio do churrasco'” – visões preconceituosas e saudosistas – com a concentração de renda e a ampliação de direitos a minorias. Segundo ele, esse cenário alimenta um ressentimento que é explorado por grupos extremistas em busca de apoio.
As big techs, de acordo com Moraes, não são neutras e buscam dominar a economia e a política mundial visando o lucro. Essa busca por poder econômico as leva a ignorar fronteiras e legislações, aliando-se a grupos que promovem discursos de ódio e desinformação.
O ministro citou o PL das Fake News como um exemplo de como as grandes empresas de tecnologia atuam para proteger seus interesses. A pressão exercida por essas empresas resultou na retirada do projeto de pauta, demonstrando seu poder de influência no cenário político.
Moraes criticou a lógica das redes sociais, que se baseia no engajamento gerado pela indignação. A disseminação de notícias falsas e discursos de ódio é amplificada pelos algoritmos, dificultando o debate sério e a busca por informações precisas.
O ministro defende a criação de limites legais para a atuação das redes sociais. Ele argumenta que as plataformas são tolerantes com discursos de ódio e conteúdos ilegais porque essas publicações geram engajamento e, consequentemente, mais lucro para as empresas.
Durante a aula, Moraes também abordou os ataques contra as eleições e o Poder Judiciário. Ele ressaltou que a descredibilização do sistema eleitoral e as tentativas de interferir nos tribunais constitucionais são estratégias comuns de líderes neoautoritários.
Moraes encerrou a aula com uma defesa da Constituição, afirmando que todas as ideologias devem respeitar a democracia e a Carta Magna. Ele destacou a importância das instituições para garantir a estabilidade e a segurança do país, protegendo-o contra extremismos e arroubos antidemocráticos.
A discussão sobre a crise da democracia no Brasil e a atuação das big techs levanta questões importantes sobre o futuro da sociedade e a necessidade de regulamentação das plataformas digitais. O debate continua em aberto, com a busca por soluções que garantam a liberdade de expressão e combatam a desinformação.