Em Minas Gerais, um grupo de **Macacos-prego de Minas Gerais** tem chamado a atenção de cientistas e pesquisadores da área. Esses primatas, conhecidos por sua inteligência e habilidades no uso de ferramentas, demonstraram um comportamento que remete ao período Paleolítico da humanidade, também conhecido como a Idade da Pedra Lascada, quando nossos ancestrais começaram a moldar pedras para criar ferramentas.
Cientistas têm estudado há mais de uma década o comportamento de alguns primatas e sua capacidade de encontrar alternativas criativas para abrir frutos e sementes. Os chimpanzés, por exemplo, também podem estar na fase da pedra lascada há mais de quatro mil anos. Além deles, os macacos-de-rabo-longo (_Macaca fasciularis_), da Tailândia, também usam a mesma técnica.
O detalhe importante é que os macacos-prego mineiros não fazem suas ferramentas lascadas intencionalmente. Isso levou os pesquisadores a questionar se o que antes era considerado o marco na sofisticação cognitiva dos hominídeos poderia ter sido também não intencional.
Waldney Pereira Martins, professor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), que participou da pesquisa, explica que as lascas são formadas por acaso quando os animais quebram os frutos. Paula Medeiros, também brasileira, colaborou no artigo.
Os _Sapajus xanthosternos_ (macaco-prego-do-peito-amarelo), como são conhecidos os macaquinhos mineiros, estão distantes dos Homo sapiens na linha evolutiva. A descoberta de que os macacos-prego de Minas Gerais utilizam pedras como “martelo” e “bigorna” para quebrar frutos, produzindo lascas de pedra de forma não intencional, surpreendeu a comunidade científica.
O estudo descreve o comportamento comum dos animais, onde apoiam a fruta em uma pedra maior, chamada de “bigorna”, e usam uma pedra menor, que levantam e batem no fruto para quebrá-lo, o “martelo”. Martins explica que, da mesma forma que é difícil acertar sempre na cabeça de um parafuso com um martelo, para esses animais também é, e a ferramenta acaba golpeando a bigorna e formando as lascas de forma não intencional.
Tomos Proffitt e Lydia Luncz, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, autores do estudo, escrevem que a análise dos registros demonstra muitas das características arqueológicas associadas à produção intencional de lascas. Isso inclui as pedras “martelo” com dano substancial em virtude do impacto e uma série de pedaços lascados e separados.
A descoberta permite questionar se houve um avanço na inteligência, ou um salto evolutivo, a partir do momento em que nossos ancestrais começaram a utilizar a pedra lascada e se ela foi fabricada intencionalmente. A criação de apetrechos exige uma complexidade bem maior dos sistemas cognitivos, em comparação com o uso conveniente de materiais da natureza.
Os pesquisadores acreditam que esses símios seguiram um caminho evolutivo similar ao nosso. No entanto, Martins ressalta que um mesmo caminho evolutivo não significa que esses animais se igualarão ao que somos hoje em alguns milhões de anos. A evolução é influenciada por diversos fatores ambientais e genéticos, e os macacos precisariam passar por fatores semelhantes para se igualarem a nós.
Além disso, o estudo revive análises anteriores feitas na Serra da Capivara, que questionavam se as evidências da presença de humanos teriam mesmo sido feitas por humanos. Lá no Piauí, os macacos-prego também deixaram rastros de suas lascas.
Martins garante que os macacos-prego-do-peito-amarelo ainda devem brilhar nos campos de pesquisa. O comportamento é exclusivo para as populações de caatinga e mata seca, sendo importante preservar a espécie como um todo e a cultura do uso de ferramentas.