Última expedição à Antártida: Brasileiro encerra 40 anos de missões polares

Última expedição Antártida: glaciólogo encerra 40 anos de pesquisas e relata mudanças climáticas drásticas. Saiba mais sobre sua jornada e a importância da pesquisa polar!
02/02/2025 às 08:05 | Atualizado há 4 meses
Última expedição Antártida
Última expedição Antártida

Após 40 anos de pesquisas na Antártida, o glaciólogo Jefferson Simões, 66, encerra suas missões polares com uma Última expedição Antártida. A circum-navegação do continente gelado marcou o fim de uma carreira dedicada ao estudo das regiões polares, com 29 expedições no total. Simões, que iniciou sua jornada polar no Ártico em 1985, agora se dedica a uma nova missão: mentorar as novas gerações de pesquisadores.

A experiência na Antártida, segundo Simões, é única. Ele descreve a região como um “outro planeta”, com paisagens isoladas e fenômenos naturais impressionantes, como miragens e halos solares. A fauna também é um destaque, com pinguins, baleias e diversas aves. Apesar dos desafios do trabalho de campo, como frio e umidade, o convívio e a cooperação entre colegas tornam a experiência gratificante.

Simões destaca a importância da pesquisa antártica para o Brasil, apontando a necessidade de maior investimento na área. Ele compara o Brasil a outros países do Brics (Rússia, Índia e China), que possuem institutos nacionais de pesquisa polar. O Brasil, por sua vez, conta apenas com o Centro Polar e Climático da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), onde Simões atua.

A última missão do glaciólogo envolveu a coleta de dados sobre a instabilidade das geleiras antárticas, em especial da geleira Thwaites, conhecida como “geleira do fim do mundo”. A pesquisa busca entender o derretimento do gelo na periferia da Antártida e o aumento da neve no interior do continente. O objetivo é compreender o balanço de massa do manto de gelo e sua contribuição para o aumento do nível do mar.

Simões observou mudanças significativas na Ilha Rei Jorge, como o recuo das geleiras em mais de mil metros nos últimos 40 anos. Ele explica que, apesar do derretimento na periferia, a neve no interior da Antártida está aumentando devido ao aquecimento do mar. O pesquisador alerta para a aceleração do derretimento do gelo nas próximas décadas e o consequente aumento do nível do mar, que pode chegar a 1,20 metro até 2100.

A expedição coletou amostras de neve e gelo, realizou levantamentos oceanográficos e geofísicos aéreos para analisar a linha de flutuação das geleiras. O estudo dos rios atmosféricos, massas de ar úmido que se deslocam da Amazônia até a Antártida, também foi um dos focos da missão. A pesquisa investigará a presença de carbono negro nas amostras de neve, proveniente de queimadas na floresta amazônica.

A equipe liderada por Simões incluiu pesquisadores de diferentes nacionalidades, alguns dos quais permanecerão na Antártida por mais tempo. O brasileiro Renato Romano, por exemplo, continuará trabalhando na estação brasileira Comandante Ferraz. Simões afirma que esta foi sua última missão, passando o bastão para pesquisadores mais jovens. Ele ressalta a importância das regiões polares para o sistema climático global e a necessidade do Brasil se atentar às mudanças políticas e estratégicas que ocorrem nessas áreas. O cientista defende maior investimento em pesquisa na América Latina, para que a região possa acompanhar os avanços científicos globais.

Via Folha de S.Paulo

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