Indústria do aço na América Latina enfrenta desafios com avanço das importações chinesas

Setor de aço na América Latina sofre forte impacto das importações chinesas, afetando produção e empregos locais.
11/11/2025 às 19:25 | Atualizado há 6 dias
               
Importações de aço
Importação massiva de aço chinês preocupa indústria na América Latina por defesa urgente. (Imagem/Reprodução: Investnews)

O setor de siderurgia na América Latina, especialmente no Brasil, atravessa uma crise devido ao aumento das importações de aço da China. Entre janeiro e agosto de 2025, o Brasil viu um crescimento de cerca de 30% nas importações de aço laminado, o que impacta diretamente a indústria nacional.

A entrada de produtos chineses, beneficiados por subsídios e crédito estatal, cria um desequilíbrio no mercado local. Enquanto o Brasil exporta aço semiacabado de baixo valor, importa aço plano a preços até 40% menores que os praticados internamente, pressionando grandes empresas a reduzir empregos e adiar investimentos.

Além dos efeitos internos, a América Latina enfrenta desafios no comércio internacional, com os Estados Unidos e a União Europeia impondo tarifas que direcionam o excedente chinês para a região. A falta de políticas coordenadas e a demora na adoção de medidas eficazes agravam o quadro, comprometendo a competitividade do setor.
O setor de siderurgia da América Latina, especialmente no Brasil, enfrenta um momento crítico devido ao aumento das importações de aço, principalmente da China. Dados recentes mostram um crescimento de cerca de 30% nas importações de aço laminado no Brasil, entre janeiro e agosto de 2025, impactando a indústria nacional.

Esses produtos, com maior valor agregado, representam um terço do mercado interno, impulsionados por subsídios e crédito estatal na China. Enquanto isso, o Brasil continua exportando aço semiacabado, de menor valor, e importando aço plano a preços até 40% inferiores aos do mercado doméstico.

Essa dinâmica levou empresas como Gerdau e ArcelorMittal a reduzir empregos e reconsiderar investimentos no país. A crise se estende por toda a América Latina, com as exportações de aço chinês aumentando 233% nos últimos 15 anos, enquanto a produção regional caiu 13%, de acordo com a Alacero.

Estados Unidos e União Europeia impuseram tarifas de até 50%, direcionando o excedente chinês para a América Latina, que possui barreiras comerciais mais brandas. Empresários e executivos do setor consideram essa crise como estrutural, não apenas uma situação temporária.

Na abertura do congresso da Alacero, Jorge Oliveira, da ArcelorMittal Brasil, destacou que a América Latina enfrenta o momento mais desafiador em 15 anos, devido aos subsídios chineses, protecionismo americano e falta de coordenação regional. Armando Monteiro Neto defende a reforma dos instrumentos de defesa comercial brasileiros, que demoram mais de um ano para serem eficazes.

Marcela Mejía, da Câmara Colombiana do Aço, descreve um cenário similar na Colômbia, com alta capacidade ociosa e custos de energia elevados, além do aumento do aço chinês e russo. Salvador Quesada, do México, destaca o desvio de comércio asiático, onde o aço chinês é reexportado para evitar tarifas.

Bruce Mac Master, da ANDI, critica a falta de decisões estratégicas na América Latina, que apenas reage aos eventos. Ele aponta para uma “reprimarização acelerada”, com a região exportando minério e importando aço acabado.

O Brasil está no centro desse desequilíbrio, mantendo uma grande base industrial, mas enfrentando pressão nos segmentos de maior valor agregado. O país é competitivo na produção de aços longos e semiacabados, mas perdeu espaço nos aços planos, mais rentáveis.

Enquanto o Brasil exporta aço bruto a baixo custo, importa o produto final em ritmo acelerado, levando Gerdau e ArcelorMittal a suspenderem investimentos. A China, com a desaceleração interna, aumentou suas exportações de aço, direcionando-as para a América Latina, especialmente o Brasil.

As chapas e bobinas chinesas chegam aos portos brasileiros com custos até 40% menores, afetando empresas como Usiminas, CSN e ArcelorMittal. O resultado é um paradoxo, com o Brasil mantendo a produção, mas perdendo valor e empregos qualificados.

Os Estados Unidos conseguiram conter a entrada de aço chinês com tarifas e incentivos, enquanto a América Latina permanece vulnerável. Dados da CRU mostram que as exportações indiretas de aço chinês caíram nos EUA, mas aumentaram na América Latina.

Margaret Myers, da Johns Hopkins University, explica que os EUA trataram a questão como segurança nacional. O Brasil, por sua vez, reagiu tardiamente e de forma fragmentada, com a tarifa adicional de 25% sobre as importações de aço mostrando efeito limitado.

O setor aponta distorções como a entrada via Zona Franca de Manaus, acordos de livre comércio e triangulação via países asiáticos. Gustavo Werneck, da Gerdau, criticou a falta de efetividade das medidas. Por outro lado, a Abimaq argumenta que a taxação encarece o insumo e reduz a competitividade das exportações brasileiras.

Diante desse cenário, a indústria de importações de aço enfrenta um impasse, com a defesa de um setor prejudicando outro, e a ausência de uma política industrial coordenada expondo as fragilidades do país.

Via InvestNews

Artigos colaborativos escritos por redatores e editores do portal Vitória Agora.