A adaptação climática é tema central na COP30, que ocorre em um momento crítico para a crise global. Dados do Pnuma mostram queda no financiamento, que passou de US$ 28 bilhões em 2022 para US$ 26 bilhões em 2023, enquanto países em desenvolvimento precisam de até US$ 365 bilhões anuais até 2035.
Especialistas alertam que sistemas naturais essenciais, como florestas e bacias hidrográficas, são infraestruturas cruciais que, se degradadas, podem causar crises econômicas maiores que a de 2008. Além disso, a estrutura financeira global atual não está preparada para os riscos climáticos e o endividamento crescente dos países em desenvolvimento dificulta investimentos em adaptação.
Iniciativas globais sugerem reformas financeiras para liberar recursos e integrar a resiliência climática ao fluxo de capitais. Apesar do alto retorno estimado para cada real investido — dez vezes mais —, persistem barreiras como a percepção de alto risco e a falta de políticas pós-2025, o que pode comprometer avanços essenciais na luta contra os impactos climáticos.
A **adaptação climática** é o foco das discussões na COP30, em um momento crítico. Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) revelam uma preocupante queda no financiamento para adaptação, intensificada por crescentes pressões geopolíticas e econômicas. Especialistas alertam que a estrutura financeira global não está preparada para enfrentar os desafios climáticos que se avizinham.
O relatório Adaptation Gap Report 2025: Running on Empty, lançado pela diretora executiva do Pnuma, Inger Andersen, destaca que todas as nações estão sentindo os impactos das mudanças climáticas. As estimativas apontam que países em desenvolvimento necessitarão de US$ 310 a US$ 365 bilhões anuais até 2035. Em contraste, os fluxos financeiros internacionais declinaram de US$ 28 bilhões em 2022 para US$ 26 bilhões em 2023.
Os eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes e intensos, sobrepondo-se entre estações e regiões. Secas prolongadas elevam o risco de incêndios, enquanto tempestades afetam infraestruturas já fragilizadas. A adaptação tem sido vista como uma questão de equidade, mas especialistas indicam que o mundo está subfinanciando sistemas essenciais para a estabilidade macroeconômica e financeira.
O economista climático Delton Chen apresentou na COP30 um estudo que descreve os danos climáticos como uma “externalidade sistêmica”. Choques físicos se propagam rapidamente por balanços e cadeias de suprimentos, superando a capacidade dos modelos tradicionais de previsão. Chen argumenta que os impactos climáticos se assemelham a um contágio financeiro transfronteiriço, em vez de riscos isolados.
Pesquisas de Nicola Ranger, da London School of Economics, corroboram essa visão, afirmando que ecossistemas como florestas e bacias hidrográficas são infraestruturas macrocríticas. A degradação desses sistemas pode desencadear choques econômicos globais maiores que a crise financeira de 2008. Ranger propõe a criação dos Global Systemically Important Natural Systems (G-SINS), inspirada na forma como reguladores tratam bancos considerados grandes demais para falir.
Natalie Unterstell, presidente do instituto brasileiro Talanoa, ressalta que a gestão de riscos climáticos do século 21 ainda depende de uma estrutura financeira do século 20. Países que investem em resiliência podem enfrentar condições de mercado desfavoráveis, como custos de empréstimos mais altos e menor confiança dos investidores. As crescentes perdas climáticas competem diretamente com orçamentos de saúde, educação e infraestrutura.
Unterstell propõe reformas imediatas, como redefinir a adequação de capital dos bancos multilaterais para investimentos em resiliência, liberando recursos financeiros. A criação de “facilidades de garantias agrupadas e estabilização cambial” também é essencial para evitar que a adaptação climática agrave o endividamento. O Baku to Belém Roadmap sugere que integrar a resiliência ao fluxo global de capitais e reformar áreas como espaço fiscal e regras prudenciais pode viabilizar a captação de US$ 1,3 trilhão por ano até 2035.
A ClimateWorks Foundation aponta que o financiamento filantrópico atingiu US$ 873 milhões, um recorde, mas ainda insuficiente. O Green Climate Fund (GCF) é crucial para reduzir essa lacuna. Henry Gonzalez, diretor de investimentos do GCF, afirma que a instituição está comprometida em investir onde outros não investem, transformando a resiliência climática em uma oportunidade viável.
Claire Habron, da Howden Foundation, destaca que cada dólar investido em adaptação climática gera um retorno de 10 dólares. No entanto, barreiras estruturais limitam o investimento privado, como a não valorização dos benefícios de longo prazo e a percepção de risco elevada. A ausência de um mecanismo pós-2025 para adaptação climática é uma preocupação, pois pode levar a um retrocesso nos esforços de financiamento.
Choques físicos já contribuem para a volatilidade inflacionária e interrupções nas cadeias de suprimentos. Investimentos que reduzem esses choques criam oportunidades, como eficiência de resfriamento e agricultura inteligente para o clima. Harald Heubaum, da SOAS University of London, enfatiza que a resiliência é um motor de crescimento e prosperidade.
Com as negociações em andamento em Belém, o financiamento da adaptação ganha destaque na agenda global. Andersen faz um apelo para um esforço global que impulsione o financiamento da adaptação com recursos públicos e privados.
O momento exige ações urgentes e a adaptação se torna um dos temas macrofinanceiros mais importantes da década.
Via Forbes Brasil