Robert Hanssen, ex-agente do FBI, foi responsável por um dos maiores casos de espionagem na história dos Estados Unidos, vendendo informações sigilosas à KGB. Eric O’Neill, que ajudou a capturá-lo, hoje atua como consultor em crimes cibernéticos e alerta para o crescimento de sindicatos do crime digital, que operam de forma organizada e global.
Segundo O’Neill, a imagem do hacker solitário é ultrapassada. Os cibercriminosos utilizam táticas sofisticadas de espionagem, além de estrutura empresarial, como recrutamento e uso de criptomoedas para suas operações financeiras. Empresas de todos os portes estão vulneráveis, pois os dados são valiosos mesmo que não envolvam segredos governamentais.
O’Neill também chama a atenção para os riscos do TikTok, principalmente para crianças, devido à manipulação do algoritmo e à exposição a conteúdos nocivos. Para ele, o aplicativo representa uma ameaça psicológica, comparada a um Cavalo de Troia digital, que pode comprometer a segurança e o desenvolvimento infantil.
Durante duas décadas, Robert Hanssen, um agente do FBI, comprometeu a segurança nacional dos EUA ao vender informações confidenciais à KGB. Sua espionagem, considerada um dos maiores desastres na história da inteligência americana, terminou em 2001, quando foi detido pelo próprio FBI. Eric O’Neill, que participou da operação de captura, é hoje consultor de crimes cibernéticos e segurança nacional e apontou que os **Sindicatos do crime** se aproveitam de táticas de espionagem.
O’Neill, autor de “Spies, Lies, and Cybercrime: Cybersecurity Tactics to Outsmart Hackers and Disarm Scammers”, participou do Safra Artificial Intelligence Investment Day em São Paulo. Ele compartilhou suas visões sobre como criminosos digitais, potencializados pela inteligência artificial, atacam indivíduos, empresas e nações. Contrariando a imagem de hackers solitários, O’Neill descreve os criminosos cibernéticos como grupos organizados que operam globalmente em busca de informações.
Para O’Neill, o conceito de hacker como um indivíduo isolado é ultrapassado. Ele aplica a ciência da contraespionagem à segurança cibernética, observando que os cibercriminosos modernos aprenderam com as táticas de espionagem. Seu livro explora a evolução da espionagem, desde encontros secretos até ataques cibernéticos realizados remotamente de qualquer lugar do mundo.
Os **Sindicatos do crime** cibernético funcionam como empresas, com recrutamento, RH e estruturas de pagamento que usam criptomoedas. Eles movimentam grandes somas de dinheiro e investem em programas de afiliados e plataformas de e-learning. O’Neill enfatiza que a ameaça não é um indivíduo, mas sim equipes organizadas que usam táticas de espionagem para acessar e roubar dados.
Empresas frequentemente cometem o erro de acreditar que não são alvos prováveis. Elas pensam que, por não lidarem com informações governamentais ou tecnologias avançadas, estão seguras. No entanto, cibercriminosos buscam vulnerabilidades em qualquer organização, pois os dados são valiosos e podem render resgates.
A migração para a nuvem oferece vantagens de segurança, especialmente para pequenas e médias empresas. Serviços de nuvem com criptografia de ponta a ponta protegem os dados durante a transferência e no armazenamento. Mesmo que um serviço de nuvem seja comprometido, a criptografia torna os dados inúteis para os invasores. A capacidade de realizar análises de big data em ambientes virtuais é outra vantagem, impulsionando a evolução da cibersegurança com ferramentas de IA.
A inteligência artificial é uma faca de dois gumes: enquanto empresas de cibersegurança desenvolvem sistemas de IA para neutralizar ataques, criminosos também usam a IA na dark web. O mundo digital se tornou um campo de batalha constante, com a IA do bem lutando contra a IA do mal em uma guerra incessante por dados.
O’Neill aponta que a espionagem entre países é comum, mas alguns, como China, Rússia, Irã e Coreia do Norte, adotam táticas desonestas. Eles usam a espionagem para roubar informações corporativas e econômicas, além de darem carta branca para cibercriminosos atacarem países ocidentais. Para combater essa situação, é necessário que os países se protejam e dissuadam esses ataques, demonstrando capacidade de resposta.
Infraestruturas críticas, como sistemas de água, energia, telecomunicações e finanças, são alvos vulneráveis. Ataques a esses sistemas podem causar desastres imediatos, afetando a vida cotidiana. Os setores de saúde e finanças também são frequentemente atingidos, com hospitais sendo alvos preferenciais devido à urgência em retomar as operações.
O’Neill adverte sobre os perigos do TikTok, especialmente para crianças. A falta de capacidade das crianças de distinguir entre realidade e ficção, combinada com a exposição a cyberbullying e exploração, pode causar danos. Ele critica o algoritmo do TikTok, projetado para manipular e prejudicar o desenvolvimento intelectual e emocional das crianças.
No FBI, o TikTok é visto como uma operação psicológica, um Cavalo de Troia digital. O’Neill expressa sua preocupação com a falta de ação do governo americano em relação à propriedade chinesa do aplicativo, que ele acredita ser uma ameaça à segurança e ao bem-estar das crianças.
Via Brazil Journal