No imaginário popular, paira a sensação de que os acidentes de avião no Brasil estão se tornando mais frequentes. Impulsionada por eventos recentes, essa percepção merece uma análise cuidadosa à luz dos dados históricos. Será que essa impressão corresponde à realidade estatística, ou estamos diante de um fenômeno influenciado pela nossa memória seletiva e pela cobertura midiática?
Os dados do _Bureau of Aircraft Accidents Archive_ revelam que 2024 registrou o maior número de acidentes fatais desde 1959, com sete ocorrências e vítimas fatais. Em fevereiro de 2025, dois acidentes adicionais reforçaram a percepção de que os acidentes de avião no Brasil estão aumentando. No entanto, uma análise das décadas anteriores revela uma tendência de queda no número de ocorrências.
Ao longo das décadas de 2000 e 2010, foram registrados 25 acidentes fatais, um número significativamente inferior aos 41 acidentes da década de 1940 e aos 66 da década de 1950. Desde 2020, o Brasil contabiliza 15 acidentes de avião no Brasil. Essa diminuição no número de acidentes não significa necessariamente uma redução no número de vítimas.
A quantidade de fatalidades também apresenta variações consideráveis. A década de 1980, por exemplo, registrou 25 acidentes com um total de 386 vítimas, enquanto a década de 2010 contabilizou 117 vítimas, mesmo com o mesmo número de acidentes. Esses números mostram a importância de analisar tanto a frequência dos acidentes quanto o número de vítimas envolvidas para entender o panorama da segurança aérea no país.
É importante notar que a maior parte dos acidentes de avião no Brasil envolve aeronaves de pequeno porte, com capacidade para menos de 20 passageiros, incluindo voos militares e particulares. O Brasil se destaca como o segundo país com a maior frota de jatinhos privados no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Acidentes envolvendo aeronaves de grande porte, que transportam centenas de passageiros, são relativamente raros. O acidente da Air France em 2009, que vitimou 228 pessoas, permanece como o pior da aviação brasileira. Mais recentemente, o acidente do Voepass 2283 em 2024, com 62 vítimas, também chama a atenção para os riscos na aviação civil.
Embora a percepção de que os acidentes de avião no Brasil estejam aumentando possa ser influenciada por eventos recentes e pela cobertura da mídia, os dados históricos revelam uma tendência de queda no número de ocorrências ao longo das décadas. No entanto, a quantidade de vítimas pode variar significativamente, demonstrando a complexidade da segurança aérea e a necessidade de análises cuidadosas para entender os riscos e as medidas de prevenção.