O caranguejo-ferradura (Limulus polyphemus) é uma espécie antiga, sobrevivendo a cinco extinções em massa. Apesar do nome, não é um caranguejo verdadeiro, nem mesmo um crustáceo; é um artrópode, parente de aranhas e escorpiões. Seu apelido de “fóssil vivo” é justificado pela idade: tem pelo menos 200 milhões de anos a mais que os dinossauros. Sua carapaça dura, em formato de ferradura, e a cauda longa o auxiliam na locomoção na água e na terra. Embora de aparência um tanto assustadora, esses animais são inofensivos a humanos, preferindo a fuga ao contato. Sua dieta consiste em vermes e invertebrados marinhos.
O sangue azul caranguejo é sua característica mais marcante. A cor azul se deve ao cobre, ao contrário do ferro presente no sangue humano que lhe confere a cor vermelha. Este sangue coagula muito rapidamente em contato com toxinas bacterianas. Essa propriedade é crucial, pois o sangue contém o lisado de amebócitos de Limulus (LAL), uma substância que detecta endotoxinas, um tipo de bactéria.
O LAL é fundamental em testes de medicamentos intravenosos, vacinas e dispositivos médicos, garantindo a ausência de contaminação bacteriana. A presença de endotoxinas em vacinas, por exemplo, pode ser letal. A importância do sangue azul caranguejo foi evidente em 2020, durante a corrida pela vacina contra a Covid-19.
Além do uso medicinal, o caranguejo-ferradura desempenha um papel ecológico importante. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) destaca sua contribuição ao ecossistema. Milhões de ovos depositados em praias rasas servem de alimento para aves, peixes e outros animais. A carapaça também serve como habitat para diversas espécies, incluindo esponjas e mexilhões.
Entretanto, a coexistência com os humanos apresenta riscos significativos para a espécie. Eles são usados como isca de pesca, sofrem com a poluição e o aquecimento global, principalmente pelo aumento do nível do mar. A extração do sangue azul caranguejo para fins medicinais também é preocupante. Milhares de caranguejos são capturados anualmente, e até 30% deles morrem após a coleta de cerca de um terço do seu sangue. As populações diminuíram em até 75% desde 1975.
Uma alternativa promissora surgiu com o desenvolvimento do Fator C Recombinante (rFC), uma proteína que imita a ação do LAL, criada em laboratório. Apesar disso, a adoção do rFC ainda não é universal, devido à falta de aprovação regulatória em alguns países.
Apesar de vulnerável, o caranguejo-ferradura não está extinto. Esforços para minimizar os danos na coleta de sangue auxiliam na recuperação de algumas populações. Na Ásia, a perda de habitat e o aumento do nível do mar são ameaças maiores, com o caranguejo-ferradura de três espinhos enfrentando extinções locais. Ações de conservação, como a implementação de medidas de proteção e pesquisas, oferecem esperanças para o futuro da espécie. Existe a expectativa de que, futuramente, o uso do sangue de caranguejo seja completamente substituído.