Em Washington, o encontro entre o presidente Donald Trump e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, de Israel, gerou uma proposta inesperada: o Plano Trump para Gaza. A ideia, inicialmente divulgada como uma sugestão para transformar Gaza na “Riviera do Oriente Médio”, envolve a transferência da população palestina e a subsequente administração americana do território.
A declaração de Trump, embora surpreendente, não é totalmente inédita em seu estilo. Já em seu primeiro mandato, Trump apresentou propostas ousadas de mudanças geopolíticas, como a compra da Groenlândia e a anexação do Canadá. Essas ações, embora polêmicas, mostram uma tendência de Trump a desafiar convenções internacionais e a assumir riscos calculados, ou não, na política externa.
O Plano Trump para Gaza, contudo, é ainda mais radical. Ele envolve a remoção de cerca de dois milhões de palestinos de suas casas. Especialistas apontam a ausência de base legal para essa ação e alertam para as potenciais violações do direito internacional. A magnitude do desafio logístico e o impacto político são incalculáveis, exigindo um número significativo de tropas americanas e aumentando o risco de novos conflitos.
A proposta representa uma mudança significativa em relação à postura dos EUA no Oriente Médio. Trump, que em 2016 criticou a construção de nações e prometeu a retirada americana da região, agora se propõe a um envolvimento amplo e de longo prazo. Andrew Miller, ex-conselheiro de política do Oriente Médio, considera o plano “a proposta de política mais incompreensível já ouvida de um presidente americano”.
A própria proposta parece ter evoluído ao longo do dia. Inicialmente, assessores de Trump sugeriram um prazo de 15 anos para reconstrução e a necessidade de encontrar locais temporários para os palestinos. Mais tarde, Trump afirmou que os palestinos não teriam outra opção além de deixar Gaza, e finalmente, anunciou formalmente a intenção dos EUA de assumir o controle da Faixa de Gaza.
Essa tomada de controle seria permanente, transformando Gaza em um local para “todos”, não para um grupo específico de pessoas. A falta de detalhes sobre a implementação da proposta gerou críticas e descrença. Políticos e especialistas expressaram preocupação, considerando a proposta uma forma de limpeza étnica. O custo estimado, segundo Miller, seria colossal, superando amplamente o orçamento de assistência externa atual.
A proposta contradiz a postura histórica dos EUA no conflito israelo-palestino. Embora os EUA forneçam armas a Israel e busquem mediar acordos de paz, eles evitaram o envio de tropas terrestres em larga escala na região. A ideia de assumir a propriedade de Gaza colocaria os EUA no centro do conflito de maneira sem precedentes. A proposta também pode prejudicar esforços diplomáticos com a Arábia Saudita e abrir caminho para ações semelhantes de Rússia e China. Apesar do cenário improvável de implementação do plano, especialistas acreditam que a proposta serviu de distração na reunião entre Trump e Netanyahu. Netanyahu deixou a Casa Branca extremamente satisfeito, mostrando uma estreita relação entre os dois países.
Via InfoMoney