A escassez de ofertas públicas iniciais (IPOs) na Bolsa brasileira se estende por quase quatro anos. Na B3 (B3SA3), o otimismo sobre uma retomada imediata é baixo. Embora ofertas no exterior estejam crescendo, no Brasil a situação dificilmente mudará enquanto os juros permanecerem altos. Apesar disso, empresas ainda buscam listagem na bolsa, segundo o CEO da B3.
Gilson Finkelsztain, CEO da B3, declarou que várias empresas estão trabalhando para se tornarem companhias abertas. Ele atribui a baixa quantidade de IPO na B3 ao cenário global de política monetária mais rígida, impactando o número de IPOs mundialmente, não apenas no Brasil. Com a recuperação de ofertas internacionais, Finkelsztain prevê um retorno gradual das empresas brasileiras a esse mercado. No entanto, uma reviravolta significativa nas emissões de ações em 2024 parece improvável.
A recuperação do mercado de IPO na B3 dependerá da política monetária do Banco Central. A inflação precisa se aproximar da meta e a curva de juros precisa estabilizar ou até mesmo inverter sua tendência de alta. Finkelsztain reconhece a dificuldade em prever quando isso ocorrerá e enfatiza a necessidade de um ajuste fiscal mais contundente. Ele acredita que o próximo ciclo de IPOs será liderado por empresas maiores e mais consolidadas em setores tradicionais como saneamento, energia, serviços e finanças.
O CEO da B3 também explicou que uma queda drástica das taxas de juros, para 10% ou 9%, por exemplo, não é necessária para uma retomada dos IPOs. Uma simples sinalização de mudança de tendência na política monetária para o médio e longo prazo já seria suficiente para impulsionar as conversas e atrair investimentos. Isso também incentivaria a participação de investidores estrangeiros que veem o mercado brasileiro como atrativo, mas com certas ressalvas.
Finkelsztain refuta a ideia de uma saída em massa de investidores pessoa física da Bolsa, afirmando que a quantidade de CPFs cadastrados se mantém estável. Ele argumenta que os investidores estão mantendo seus ativos, eventualmente utilizando instrumentos mais complexos, como opções, para reduzir custos. O executivo reconhece que os preços de mercado refletem, de fato, uma desconfiança na sustentabilidade fiscal do país a curto prazo, mas descarta qualquer risco iminente de insolvência.
Ele acredita que não há risco de insolvência no curto prazo. O crescimento econômico do Brasil contrasta com a desconfiança em relação à responsabilidade fiscal do governo e à sustentabilidade da dívida pública. A equipe econômica, segundo ele, não pode se limitar a fechar as contas anuais com despesas fora do orçamento e receitas extraordinárias. Medidas permanentes de redução de gastos são essenciais para garantir a estabilidade financeira.
A avaliação do CEO da B3 acompanha a visão de parte do mercado de que a valorização das empresas brasileiras, particularmente as negociadas em bolsa, é subestimada. Ele cita exemplos de investidores que acreditam que o valor de mercado de uma empresa brasileira seria três vezes maior se ela estivesse sediada na Índia. Apesar dos juros altos, o mercado de capitais continua ativo. Ele é, inclusive, a principal fonte de financiamento das empresas brasileiras, com mais de R$ 600 bilhões em títulos de dívida emitidos no ano passado.
Via InfoMoney