A Agência Espacial Africana (AfSA) foi oficialmente lançada pela União Africana, com sede no Cairo, marcando um passo importante na integração dos programas espaciais do continente. A nova agência tem como objetivo principal unificar a coleta, análise e compartilhamento de dados climáticos e ambientais, essenciais para enfrentar os desafios das mudanças climáticas.
Historicamente, os programas espaciais africanos operavam de forma isolada. A AfSA, coordenada pela União Africana, que reúne 55 países, busca criar uma estrutura que permita acesso igualitário às informações de satélites e sistemas de monitoramento. “Antes, as iniciativas estavam dispersas, sem coordenação eficiente”, explica Meshack Kinyua, engenheiro espacial e especialista em políticas africanas.
Entre as prioridades da AfSA está a ampliação de sistemas de alerta precoce, já testados em regiões como a África Ocidental e a Bacia do Congo. A agência planeja desenvolver seus próprios satélites e firmar parcerias internacionais para melhorar o monitoramento climático. Uma colaboração com a Agência Espacial Europeia (ESA) já está em andamento, incluindo treinamentos técnicos e troca de conhecimento.
O lançamento da AfSA ocorre em um momento crítico para a África, que enfrenta eventos climáticos extremos com crescente intensidade. Secas no Norte da África, como em Marrocos e Argélia, causaram perdas agrícolas de até 25% e 6%, respectivamente. Enquanto algumas áreas mostram sinais de recuperação, a previsão é de que a seca persista ou até piore em regiões como o Leste Africano.
A colaboração internacional se tornou ainda mais crucial após cortes nos programas financiados pelos EUA durante o governo Trump. Cerca de 80% dos projetos de assistência à África foram suspensos, incluindo o Servir, uma parceria da NASA e Usaid para monitoramento climático. Com recursos limitados, a AfSA enfrenta desafios, mas busca avançar com projetos realistas.
Desde o lançamento do primeiro satélite africano pelo Egito em 1998, mais de 20 países estabeleceram agências espaciais, com 63 satélites já em órbita. A experiência de nações como Nigéria, África do Sul e Egito será fundamental para o sucesso da AfSA. Danielle Wood, professora do MIT, destaca que a agência tem a vantagem de focar diretamente na resiliência climática do continente.
Via Exame