Nove em cada dez brasileiros enxergam a elevação nível do mar como uma ameaça significativa. Esta é uma das conclusões da pesquisa “Oceano sem Mistérios”, realizada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em colaboração com a UNESCO e a Universidade Federal de São Paulo. O estudo foi divulgado no dia 10 durante a 3ª Conferência dos Oceanos da ONU, que acontece em Nice, França.
Entre os dias 9 e 13 de junho, representantes do mundo inteiro estão reunidos para discutir a saúde dos oceanos, financiamento para proteção marinha e práticas de desenvolvimento sustentável no combate às mudanças climáticas, pensamento que será expandido na próxima COP30 no Brasil. Ao comparar com três anos atrás, a pesquisa atual indica que a preocupação com questões ambientais está crescendo, embora ainda haja uma resistência a ações efetivas.
De acordo com os dados, 87,6% dos entrevistados afirmaram estar dispostos a mudar seus hábitos para melhor preservar o meio ambiente, um aumento de 5,4 pontos percentuais em relação ao estudo anterior. No entanto, apenas 7% dos brasileiros relataram a participação em práticas de conservação nos últimos 12 meses. Malu Nunes, diretora executiva da fundação, observa que, embora a disposição para agir aumente, ainda falta um estímulo para a realização de ações práticas e um maior compartilhamento de conhecimento sobre o tema.
A ciência também confirma as preocupações da sociedade. Um relatório apontou que desde 1901, o elevação nível do mar médio aumentou 20 centímetros, com 9,4 centímetros ocorrendo apenas desde 1993. Em março de 2023, a Organização Meteorológica Mundial indicou que as temperaturas oceânicas estão entre 0,5ºC e 0,7ºC acima da média histórica, um fenômeno que é descrito pelo co-presidente do Grupo de Especialistas em Cultura Oceânica da UNESCO, Ronaldo Christofoletti, como uma condição em que o oceano parece “febril”.
Com relação às ameaças percebidas pelos brasileiros, 84% deles consideram que todos os ecossistemas marinhos estão em risco. As principais preocupações incluem poluição (40%), mudanças climáticas (22%) e perda de biodiversidade (13%). Além disso, 50% da população reconhece que o oceano impacta diretamente suas vidas, enquanto 19% acreditam que isso ocorre de forma indireta. Os efeitos mais destacados foram na alimentação (20%) e na qualidade de vida (14%).
Entretanto, há um contraste nas percepções sobre a relação entre ações individuais e a saúde dos oceanos. Apenas 30% dos entrevistados entendem que suas ações afetam a saúde marinha, e 44% acham que não há conexão. As atividades humanas mais mencionadas como prejudiciais incluem o descarte de lixo (30%) e a poluição (29%).
Curiosamente, muitos brasileiros também reconhecem o impacto do oceano em eventos climáticos que ocorrem longe do litoral. Por exemplo, 51% se opuseram à ideia de que queimadas não afetam as condições marítimas. Christofoletti ressalta a importância de perceber a interconexão entre os ecossistemas, mencionando que o aquecimento das águas entre 2023 e 2024 exacerbou a seca na Amazônia.
Em suma, os dados coletados enfatizam a necessidade de promover a conscientização sobre os efeitos das ações humanas na saúde dos oceanos, um foco vital em um cenário global onde a elevação nível do mar e suas consequências são cada vez mais palpáveis.
Via Exame