Para quem observa os indicadores, a Usiminas na Bolsa pode parecer uma oportunidade imperdível. A empresa apresenta um price to book de 0,2x, um dos menores entre as empresas de siderurgia globalmente. No entanto, essa avaliação reduzida tem suas razões. A companhia enfrenta uma série de desafios que vão desde questões setoriais até problemas internos, o que justifica a sua desvalorização no mercado.
O BTG Pactual reiterou sua recomendação neutra para as ações da Usiminas, reduzindo a projeção para o EBITDA. De acordo com o analista Leonardo Correa, a Usiminas enfrenta dificuldades devido aos baixos preços praticados pela China, ao excesso de importações no Brasil, à deflação nos preços do aço e à necessidade de investimentos para aumentar a competitividade.
Esses fatores têm impactado negativamente a margem EBITDA da divisão de aço da Usiminas, que atualmente se encontra em apenas 5%. Esse valor é insuficiente para sustentar o pagamento de dividendos, realizar buybacks significativos ou gerar retornos aceitáveis para os acionistas. O Retorno sobre o Capital Investido (ROIC) está abaixo de 5%, segundo o banco.
Diante desse cenário, o BTG Pactual prefere adotar uma postura cautelosa, aguardando sinais mais concretos de recuperação da rentabilidade da empresa, que tem apresentado variações nos últimos trimestres. A renovação do sistema de cotas de importação de aço, implementada pelo governo para proteger a indústria nacional, também foi considerada insuficiente pelo banco.
Os dados mais recentes mostram que as importações ainda representam uma parcela significativa da demanda total de aço no Brasil, atingindo 24%. Desse total, 28% correspondem a produtos planos e 12% a produtos longos. A capacidade excedente da China e sua dependência das exportações também são fatores que continuam a pressionar o mercado.
Adicionalmente, os laços comerciais entre Brasil e China, combinados com o potencial impacto inflacionário de tarifas mais altas sobre o aço, tornam a implementação de barreiras comerciais mais rígidas um cenário improvável. Para mitigar as pressões sobre a receita, a Usiminas tem implementado medidas de redução de custos, que têm compensado parcialmente o desempenho fraco da receita.
Ainda existem dúvidas sobre a magnitude da recuperação das margens. Apesar dos esforços da administração para otimizar a estrutura de custos, a visibilidade permanece baixa, o que limita o potencial de valorização das ações. A Usiminas também enfrenta o desafio de executar um plano de capex robusto em um ambiente desfavorável para o setor, com o EBITDA sob pressão.
A Usiminas mantém um capex anual de cerca de R$ 1 bilhão e anunciou recentemente um investimento adicional de R$ 1,7 bilhão ao longo de quatro anos para modernizar e reconstruir parcialmente uma de suas coquerias na usina de Ipatinga. O objetivo é aumentar a produção interna de coque e diminuir a dependência de fornecedores externos.
Apesar de reconhecer a importância estratégica do projeto e seu potencial para reduzir custos no futuro, a Usiminas já possui altos investimentos necessários para recuperar a competitividade, o que pode limitar a geração de fluxo de caixa livre. Assim, investidores devem acompanhar de perto os próximos movimentos da empresa.
Via Brazil Journal