Argentina atrai interesse do Brasil e da China em M&As

Crescimento de M&As na Argentina desperta interesse brasileiro e chinês. Entenda os motivos e o impacto econômico.
29/08/2025 às 08:01 | Atualizado há 2 semanas
M&As na Argentina
Investidores buscam escritórios de fusões para driblar tarifas do governo Trump. (Imagem/Reprodução: Infomoney)

O aumento das aquisições e fusões (M&As) na Argentina sinaliza novas oportunidades de negócios para Brasil e China. Após as tarifas impostas por Donald Trump, empresas estão explorando estratégias para contornar as restrições ao comércio. A Argentina viu um crescimento de 62% no valor das M&As no primeiro semestre, demonstrando um ambiente favorável para investimentos.

O governo argentino, liderado por Javier Milei, trouxe reformas que tornam o país mais atrativo para investidores. Com a possibilidade de repatriação de lucros, as empresas podem operar com maior liberdade. Isso incentiva o interesse de companhias brasileiras e chinesas, que buscam adquirir empresas argentinas para se beneficiar de tarifas mais baixas ao exportar para os EUA.

Apesar da inflação e da incerteza política no país, o mercado de M&As se fortalece com investidores locais, que reconhecem oportunidades em ativos estrangeiros. Algumas aquisições, principalmente em setores como petróleo e gás, destacam-se no cenário. O fluxo de transações entre Argentina e Brasil continua a crescer, prometendo um futuro dinâmico para ambos os mercados.
O aumento das M&As na Argentina sinaliza um novo ciclo de negócios envolvendo empresas do Brasil e da China. Após a imposição de barreiras tributárias por Donald Trump, o mercado começa a observar estratégias de triangulação de exportações para driblar as tarifas americanas. No primeiro semestre, o valor das M&As no país vizinho cresceu 62%, com um aumento de 14% no número de negócios, conforme dados da TTR Data. Espera-se que as reformas do governo de Javier Milei e as mudanças no comércio internacional impulsionadas pelos EUA acelerem esse ritmo.

Antonio Arias, líder do departamento de M&A e Venture Capital da DLA Piper Argentina, destaca que já existem empresas chinesas e brasileiras interessadas em abrir ou comprar companhias na Argentina para realizar a triangulação de exportações para os Estados Unidos. Desde que Donald Trump anunciou sua lista de tarifas, Brasil e China foram os países mais afetados, com impostos de importação sobre produtos brasileiros chegando a 50% e para produtos chineses, 30%.

A Argentina, sob o governo de Milei, aliado de Trump, possui uma alíquota mínima de 10% sobre produtos enviados aos EUA. A estratégia de investidores chineses e brasileiros inclui adquirir negócios na Argentina para beneficiar sua produção e, a partir daí, exportar para os EUA com uma alíquota menor. No entanto, Arias ressalta que existem regras complexas para agregar valor ao produto importado pela Argentina e exportado para outro país, a fim de que seja classificado como de origem argentina.

A Argentina tem se tornado atrativa para investidores estrangeiros com a liberação da repatriação de lucros de empresas com operação no país. Anteriormente, era necessária autorização do Banco Central para enviar dividendos da Argentina ao país de origem, o que não era facilmente obtido. Agora, dividendos distribuídos a partir de janeiro de 2025 podem ser repatriados com uma retenção de 7%. Daniel Lasse, da Value Capital, aponta que essas mudanças aumentam a competitividade da Argentina, inclusive em relação ao Brasil.

O ritmo crescente de M&As também pode ser atribuído à desaceleração dos preços na Argentina. A inflação, que chegou a 25,5% em dezembro de 2023, tem apresentado aumentos entre 1,5% e 2,8% ao mês em 2025, atraindo a atenção dos investidores. Apesar disso, investidores tradicionais ainda não chegaram em grande número. O mercado de M&As é, em grande parte, centrado em empresários regionais e no interesse crescente de fundos de Special Situations.

Há investidores argentinos otimistas com o crescimento a longo prazo do país, que estão adquirindo operações de estrangeiros que estão saindo, aproveitando janelas de oportunidade. Fundos de Special Situations, focados em ativos mais endividados de alto risco e potencial de retorno, também estão de olho no mercado argentino. No entanto, devido ao fechamento do mercado de dívida argentino nos últimos anos, esses fundos muitas vezes não encontram ativos endividados para investir.

Investidores estratégicos com interesse nos setores de mineração e óleo e gás são uma exceção. A compra de 50% da Petronas, campo de petróleo La Amarga Chica, na região de Vaca Muerta, pela Vista Energy, representou US$ 1,207 bilhão do total de US$ 3,489 bilhões negociados nos primeiros seis meses de 2025. No primeiro semestre de 2025, Brasil e Argentina foram os únicos países da América Latina a registrar crescimento no número e valor das transações de M&A em comparação com 2024.

Uma parte relevante do fluxo de transações vem de investidores ou empresas argentinas com destino ao Brasil, totalizando US$ 468,77 milhões, dos quais US$ 308,34 milhões foram investidos em ativos brasileiros. Daniel Lasse, da Value Capital, observa que as taxas de juros atuais e a incerteza política antes da eleição presidencial de 2026 têm afastado investidores financeiros de novas M&As.

Ativos brasileiros podem se tornar ainda mais baratos no próximo ano, fortalecendo o cenário de empresas argentinas comprando ativos no Brasil.

Via InfoMoney

Artigos colaborativos escritos por redatores e editores do portal Vitória Agora.