Durante o South Summit em Madri, a diretora de políticas públicas do Google DeepMind, Dorothy Chou, destacou o papel da inteligência artificial (IA) na resolução de desafios sociais. Segundo ela, a tecnologia deve ir além dos chatbots e mergulhar em aplicações concretas que impactam a vida das pessoas. A IA para saúde é um dos focos principais, onde se vislumbra um potencial transformador significativo.
Chou, que lidera um dos braços mais avançados em pesquisa de IA, apontou que soluções já estão sendo implementadas. Um exemplo disso é a utilização de tecnologia para um diagnóstico mais rápido de endometriose, uma condição que pode levar até uma década para ser identificada corretamente. Com o uso de IA e técnicas de ressonância magnética, esse tempo pode ser reduzido consideravelmente.
Outro ponto relevante é o impacto da tecnologia nos próprios data centers do Google, que conseguiu uma redução de até 30% no consumo de energia através da inteligência artificial. Embora os resultados sejam positivos, Chou observa que reproduzir esses processos em outras empresas apresenta desafios, especialmente na organização e qualidade dos dados. Essa realidade sublinha a necessidade de inovação em outros setores, incluindo saúde, energia e meio ambiente.
Na área de ciência, o projeto AlphaFold do DeepMind exemplifica o uso da IA para prever estruturas de proteínas, acelerando o tempo de pesquisa que antes levava anos. Essa eficiência pode ser crucial no desenvolvimento de vacinas e tratamentos para doenças raras. A oradora enfatizou que a ciência precisa “querer usar” essa alavanca tecnológica para maximizar suas potencialidades.
Entretanto, há desafios. O investimento em ciência e tecnologia ainda é baixo, devido à atração de capital para produtos que não oferecem inovações relevantes. Chou criticou a tendência de startups a desenvolver apenas interfaces sobre modelos existentes, sem propor soluções inovadoras. Ela comentou que esse tipo de abordagem não resolve problemas reais e, portanto, não deve ser o foco de investimentos.
A Europa, segundo Chou, possui uma oportunidade ímpar de liderar a revolução da IA na ciência. Com universidades renomadas e uma forte estrutura de saúde pública, o continente tem a base necessária para um novo polo tecnológico. Contudo, a dificuldade de escalar soluções devido a processos burocráticos de compras públicas ainda é um obstáculo a ser enfrentado.
A mensagem final de Chou foi clara: investidores e governos devem reavaliar suas estratégias de investimento e incentivar inovações que ultrapassem as convenções atuais. A IA para saúde e outras aplicações científicas precisam de um ambiente propício que elimine a burocracia e fomente a colaboração. O futuro da tecnologia e da ciência depende disso, e a verdadeira inovação pode vir de talentos fora dos circuitos tradicionais.
Via Exame