A crescente preocupação com a elevação nível do mar e seus impactos é uma realidade para a maioria dos brasileiros. Uma pesquisa recente revela que nove em cada dez pessoas no Brasil veem a elevação do nível do mar como uma ameaça direta, reflexo do aquecimento global e eventos climáticos extremos.
O estudo “Oceano sem Mistérios”, realizado pela Fundação Grupo Boticário em parceria com a UNESCO e a Universidade Federal de São Paulo, aponta para um paradoxo: embora a preocupação ambiental cresça, a ação individual ainda é baixa. A pesquisa foi apresentada durante a 3º Conferência dos Oceanos da ONU, em Nice, na França, onde líderes globais discutiram a saúde oceânica e o desenvolvimento sustentável.
A pesquisa revelou que 87,6% dos entrevistados demonstram vontade de mudar hábitos para a conservação do meio ambiente. Contudo, apenas 7% efetivamente participaram de ações positivas nos últimos 12 meses. Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, enfatiza a necessidade de estimular ações práticas e disseminar conhecimento sobre o tema.
A elevação nível do mar é uma preocupação crescente, impulsionada pelo aquecimento global. Dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e da NASA mostram que, desde 1901, o nível médio do mar subiu 20 centímetros, com 9,4 centímetros desse aumento ocorrendo desde 1993. Em 2023, a Organização Meteorológica Mundial registrou temperaturas oceânicas médias entre 0,5ºC e 0,7ºC acima da média histórica.
A fragilidade do ecossistema marinho é amplamente reconhecida, com 84% dos brasileiros acreditando que ele está sob risco. As principais ameaças incluem poluição (40%), mudanças climáticas (22%), perda de biodiversidade e turismo irresponsável (13%), além de crescimento urbano e especulação imobiliária (11%).
Metade da população brasileira reconhece que o oceano tem um impacto direto em suas vidas, afetando a alimentação (20%), o abastecimento de água (14%) e a qualidade de vida (14%), além de influenciar as mudanças climáticas e o aquecimento global (14%).
A pesquisa também revela que apenas 30% dos entrevistados compreendem que suas ações individuais influenciam a saúde dos oceanos. Os impactos mais mencionados das atividades humanas são o descarte inadequado de lixo (30%) e a poluição (29%), além de questões ligadas a embalagens, reciclagem e consumo.
A maioria dos brasileiros entende que o oceano influencia eventos climáticos, mesmo aqueles que ocorrem longe da costa. Por exemplo, 51% discordam que as queimadas não têm relação com as condições dos mares. Ronaldo Christofoletti, da UNESCO, destaca a interconexão entre os ecossistemas e como o aquecimento recorde das águas agrava a seca na Amazônia, intensificando focos de fogo em todo o país.
Marlova Jovchelovitch Noleto, da UNESCO no Brasil, ressalta a importância de promover a conscientização sobre o impacto das ações humanas na saúde do oceano.
Via Exame