A busca por vida em Marte sempre despertou curiosidade e, curiosamente, a resposta pode estar mais perto do que imaginamos: dentro de nós. Bactérias extremófilas, como a _Helicobacter pylori_ que reside no estômago humano, mostram que a vida pode persistir em condições extremas. Essa descoberta abre novas perspectivas sobre a possibilidade de existência de vida extraterrestre em ambientes inóspitos.
A adaptação de bactérias como a _H. pylori_ ao ambiente ácido do estômago demonstra a capacidade de certos organismos de prosperar em condições consideradas inviáveis. Essa característica é fundamental na busca por vida em Marte e em outros corpos celestes com ambientes desafiadores. A análise de extremófilos terrestres oferece um novo olhar sobre o potencial biológico em outros planetas.
Desde o envio dos rovers Perseverance e Curiosity, a exploração de Marte revelou a presença de compostos orgânicos e minerais que indicam a possibilidade de o planeta ter sido habitável no passado. Apesar do cenário desértico atual, a descoberta reacende a esperança de encontrar vestígios de vida microbiana, similar à encontrada em ambientes extremos na Terra.
A busca por vida em Marte também se estende às luas de Júpiter e Saturno, como Europa e Encélado, que abrigam oceanos sob suas crostas de gelo. Esses oceanos poderiam conter moléculas orgânicas, essenciais para o surgimento de vida. A exploração desses satélites pode revelar formas de vida unicelulares, semelhantes aos extremófilos terrestres.
Antes dos anos 1960, a ciência limitava a existência da vida a condições amenas como água, temperatura moderada e pH neutro. No entanto, a descoberta de bactérias em fontes termais, como as do Parque Nacional de Yellowstone, expandiu essa visão. Desde então, a identificação de extremófilos em ambientes como fendas de gelo polar e profundezas oceânicas transformou a busca por vida em Marte.
Na década de 1980, os médicos australianos Barry Marshall e Robin Warren desafiaram o dogma científico ao descobrirem que a _H. pylori_ era a causa de úlceras gastroduodenais. A bactéria, equipada com flagelos para se locomover no estômago e a enzima urease para neutralizar a acidez, inflama e destrói o tecido gástrico. A descoberta revolucionou a gastroenterologia e rendeu aos cientistas o Prêmio Nobel de 2005.
O estudo da _H. pylori_ demonstra que a vida em Marte, ou em outros exoplanetas, pode existir em condições extremas, como alta acidez, ausência de luz e exposição a enzimas degradantes. Os “marcianos” que tanto buscamos podem se assemelhar a esses microrganismos, adaptados a ambientes hostis. O conhecimento adquirido com os extremófilos terrestres orienta a busca por vida além da Terra.