Com o retorno das atividades legislativas, um desafio crucial para o governo federal é a aproximação com a Bancada evangélica brasileira, grupo de parlamentares com posicionamento conservador em pautas de costumes. Pesquisadores, como o escritor André Ítalo (autor de “A Bancada da Bíblia: uma história de conversões políticas”), apontam essa dificuldade.
Historicamente, a Bancada evangélica brasileira, apesar de sua postura conservadora em questões sociais, demonstrou apoio a governos de diferentes espectros ideológicos, de esquerda ou direita, mantendo proximidade com o Poder Executivo. Um dos motivos seria a manutenção de benefícios, como isenções tributárias para igrejas. Governos anteriores, incluindo os de Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro, contaram com a presença de pastores em cargos de liderança. Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso também receberam apoio evangélico.
O governo de Jair Bolsonaro, no entanto, marcou um ponto de inflexão. Bolsonaro foi o primeiro presidente de direita a ter uma afinidade ideológica com a bancada, algo que mudou com a volta de Lula ao poder. A Bancada evangélica brasileira deixou de ser automaticamente governista. O crescimento da bancada tem se desacelerado, em linha com o crescimento mais lento da população evangélica no país. Atualmente, estima-se entre 90 e 100 deputados evangélicos na Câmara (de 513) e 10 a 15 no Senado (de 81). A proporção de evangélicos na Câmara é menor que a proporção na população em geral (menos de 20% versus cerca de 30%).
O professor Leonardo Barreto, da UnB, destaca a heterogeneidade da Bancada evangélica brasileira, com diferentes estratégias e segmentos. A Igreja Universal, por meio do Republicanos, tem demonstrado uma estratégia eficaz, incluindo políticos não evangélicos em suas fileiras, como o atual presidente da Câmara, Hugo Motta. Apesar desse sucesso estratégico, a bancada enfrenta desafios internos. Representantes desses partidos buscam posições mais centristas, mas sofrem pressão de uma base evangélica cada vez mais conservadora e alinhada à direita. Essa pressão limita as opções políticas da bancada.
O livro de André Ítalo destaca a trajetória da Bancada evangélica brasileira, desde a eleição do primeiro pastor deputado federal, Levi Tavares (1967-1971). Foi durante a Constituinte de 1986 que o termo “bancada evangélica” surgiu, impulsionado pelo temor de um forte envolvimento da Igreja Católica na Constituição, que poderia levá-la a se tornar novamente religião oficial. A oposição de setores da Igreja Católica à ditadura e sua aliança com grupos de esquerda contribuíram para posicionar as igrejas evangélicas mais à direita. Inicialmente, a bancada elegeu 32 deputados.
André Ítalo diferencia a “bancada da bíblia” da Frente Parlamentar Evangélica, grupo institucionalizado com 219 deputados e 26 senadores de diferentes partidos. Para formar essa frente, são necessárias 171 assinaturas, o que explica a inclusão de parlamentares não evangélicos. A Frente Parlamentar Evangélica possui assessores que monitoram pautas relevantes para os evangélicos. Deputados evangélicos discutem a programação semanalmente, atualmente coordenada pelo deputado Silas Câmara (Republicanos-AM). A reportagem tentou contato com a assessoria do deputado, mas não obteve resposta.
Via Folha Vitória