Durante a Conferência de Bonn, o Brasil anunciou uma nova iniciativa que busca integrar uma perspectiva ética ao debate sobre mudanças climáticas, chamada de Balanço Ético Global. A proposta, promovida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em parceria com o secretário-geral da ONU, António Guterres, foi apresentada no dia 17 de outubro e pretende ser um preparativo para a COP30, que será realizada em Belém do Pará em novembro.
A iniciativa é parte de um esforço maior para fortalecer a mobilização em torno dos compromissos climáticos, que inclui quatro círculos de discussão propostos pela presidência da COP. O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP, destacou a importância deste momento, mencionando a passagem de dez anos desde a assinatura do Acordo de Paris, e a necessidade de avançar em diversos âmbitos para enfrentar a crise climática.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, enfatizou que essa proposta é particularmente urgente. Ela observou que, nos últimos 21 meses, a temperatura global ultrapassou o limite de 1,5 graus Celsius, o que indica que as ações até o momento não são suficientes para mitigar os efeitos da crise ambiental. Temas centrais serão discutidos, incluindo o financiamento climático, a transição energética justa e a inclusão de vozes de comunidades tradicionais e indígenas.
O Balanço Ético Global propõe uma abordagem de “escuta ética e planetária” e visa garantir que a COP30 seja um espaço de implementação efetiva de soluções para a crise climática. A intenção é reunir aproximadamente 30 líderes de diversos continentes — cientistas, filósofos, ativistas, representantes de comunidades indígenas e outros — para co-criar um diálogo global.
Silva também ressaltou que é fundamental assegurar que os investimentos atuais estejam alinhados às metas estabelecidas e que ações, como a ampliação de energia renovável e o combate ao desmatamento, sejam discutidas com base em princípios éticos. Para isso, serão realizados seis diálogos intercontinentais em diversas regiões do mundo, com organizadores regionais facilitando a coleta e análise dos resultados.
Mary Robinson, representante da Europa, comentou sobre a diversidade das regiões participantes, sublinhando que cada uma trará perspectivas únicas, com um foco humanitário. A justiça climática será um aspecto crucial nas discussões. Selwin Hart, assessor especial da ONU, apontou que o último ano foi o mais quente já registrado e que a desigualdade agravada pela crise climática precisa ser abordada em conjunto com soluções para acelerar a transição energética.
O embaixador Antônio Patriota, que representa o Brasil no Reino Unido, reiterou que ignorar a crise climática é antiético. Ele chamou a atenção para o fato de que os países e pessoas que menos contribuíram para o aquecimento global são os que enfrentam os piores efeitos.
Por fim, todos os resultados dos diálogos realizados serão reunidos em um relatório global que será apresentado na COP30, contribuindo para o processo de tomada de decisão. Haverá também um espaço dedicado ao Balanço Ético Global durante a conferência, visando garantir que as discussões de ética e responsabilidade ambiental permaneçam em pauta.
Via Exame