Na Bahia, o agricultor Moisés Schmidt está liderando um projeto ambicioso: a criação da maior fazenda de cacau no Brasil e no mundo. Com um investimento de US$ 300 milhões, a iniciativa visa revolucionar a produção de cacau através de técnicas de cultivo de alto rendimento, irrigação total e fertilização intensiva, tudo isso em uma área que supera o tamanho da ilha de Manhattan.
O plano de Schmidt não é o único, outros grupos agrícolas também estão investindo pesado na produção de cacau no Brasil, buscando aplicar a experiência em agricultura em larga escala para capitalizar sobre os preços elevados do produto. Se bem-sucedidos, esses projetos podem deslocar o centro de produção de cacau da África Ocidental para o Brasil.
O Brasil pode se tornar um player importante no mercado global de cacau, impulsionado por investimentos e novas técnicas de cultivo. A crise global do cacau, causada por problemas de produção na Costa do Marfim e Gana, abre espaço para o crescimento da fazenda de cacau no Brasil.
A empresa familiar Schmidt Agrícola começou a se preparar para cultivar cacau em 2019, após concluir que haveria um déficit de oferta no futuro. A fazenda de cacau no Brasil planejada por Schmidt, com 10.000 hectares, supera as propriedades da África Ocidental, que geralmente têm algumas dezenas de hectares.
A estratégia é aplicar técnicas de agricultura em larga escala, como em plantações de soja ou milho. As árvores serão plantadas próximas umas das outras, permitindo irrigação mecanizada e aplicação de fertilizantes e pesticidas. A colheita, no entanto, é a única etapa que ainda não é mecanizada.
A região do Cerrado, no oeste da Bahia, oferece condições ideais para a agricultura de larga escala, com áreas planas e recursos hídricos abundantes. A Schmidt Agrícola já produz soja, milho, algodão e frutas em milhares de hectares na região.
Nas novas fazendas, os cacaueiros são cultivados a céu aberto, contrastando com as plantações tradicionais que utilizam o sombreamento de outras árvores. Schmidt está desenvolvendo árvores de alto rendimento por meio de seleção positiva, multiplicando mudas de plantas que produzem mais frutos.
As árvores de alto rendimento plantadas na primeira fase do projeto estão produzindo cerca de 3.000 quilos por hectare, dez vezes mais que a produtividade média no Brasil. A meta é alcançar 4.000 kg/ha, oito vezes o rendimento da Costa do Marfim.
A BioBrasil, empresa de mudas de Schmidt, utiliza maquinário da Ellepot, com capacidade para produzir 10 milhões de mudas por ano. Além de fornecer para a fazenda gigante, a empresa vende mudas para outros projetos de cacau no Brasil.
Há quem questione a viabilidade da expansão da fazenda de cacau no Brasil. Pam Thornton, consultora de cacau, afirma que os preços mundiais precisam se manter altos para justificar a expansão da área cultivada. Schmidt, por outro lado, acredita que sua operação seria lucrativa mesmo com preços mais baixos.
As projeções de longo prazo para a oferta e demanda de cacau são positivas, especialmente considerando a estagnação da produção na África Ocidental. Marcelo Dorea, analista de cacau, aponta o Brasil como uma alternativa natural para a produção, devido ao conhecimento e disponibilidade de terras.
A Schmidt Agrícola já cultiva mais de 35.000 hectares com outras culturas e possui acordos com produtores de chocolate e comerciantes de cacau. A Cargill já é parceira na fase inicial do projeto e negocia a expansão da parceria.
A Barry Callebaut, maior fornecedora mundial de produtos de cacau e chocolate, negocia uma parceria com a Fazenda Santa Colomba para formar uma fazenda de cacau no Brasil de 5.000 a 7.000 hectares na Bahia. A Mars, produtora das barras Snickers e M&Ms, também instalou um campo de testes na região.
A pesquisadora Karina Peres Gramacho, da Ceplac, alerta para os riscos de grandes plantações de cacau baseadas em poucos tipos de árvores, que podem ser vulneráveis a doenças. Ela defende o uso de variedades mais desenvolvidas e adaptadas à região.
Cristiano Villela Dias, do Centro de Inovação do Cacau (CIC) do Brasil, afirma que testes iniciais não indicaram diferenças no sabor do cacau cultivado no oeste da Bahia. A Mars também não identificou diferenças no sabor associadas ao cultivo a pleno sol.
Embora existam desafios e incertezas, o desenvolvimento de grandes fazendas de cacau no Brasil representa uma oportunidade significativa para o país se tornar um importante player no mercado global, aproveitando a crise de produção na África Ocidental e aplicando tecnologias e técnicas de cultivo inovadoras.
Via InfoMoney