A Cielo fora da bolsa busca se reestruturar em um mercado financeiro que está em constante mudança. A empresa, que já foi líder no processamento de transações no Brasil, hoje enfrenta desafios com a crescente popularidade de fintechs, transferências instantâneas e plataformas integradas. O objetivo é se adaptar para encontrar um novo espaço neste cenário competitivo e dinâmico.
Controlada pelo Banco do Brasil e Bradesco, a Cielo fechou seu capital em 2024, revelando uma transformação em seu modelo de negócios. A rentabilidade, que antes se baseava na antecipação de recebíveis e taxas cobradas dos lojistas, agora se desloca para outros setores. Bancos que oferecem crédito integrado e fintechs que expandiram seus serviços financeiros ganham destaque.
Outras empresas do setor também passaram por mudanças semelhantes. A Rede fechou o capital em 2012, sendo incorporada pelo Itaú, e a Getnet saiu da bolsa em 2022, por decisão do Santander. Analistas apontam que essas movimentações indicam que a adquirência se tornou uma peça dentro de ecossistemas bancários mais amplos, exigindo que a Cielo se adapte a essa nova dinâmica.
Atualmente, a Cielo ocupa a segunda posição entre as credenciadoras no Brasil, disputando um mercado fragmentado. Sua participação, que já foi de 50%, agora está em torno de 20%, um pouco atrás da Rede. A Cielo, no entanto, não se pronunciou sobre as estratégias para enfrentar este novo cenário.
Apesar de ter uma fatia menor do mercado, a Cielo ainda possui relevância. Sua força reside nos contratos com grandes varejistas, no volume significativo de transações e na estrutura estabelecida, especialmente com a Cateno, uma joint venture com o Banco do Brasil. No entanto, essa estrutura também pode ser um obstáculo, já que a sociedade entre o Banco do Brasil e o Bradesco pode limitar a agilidade nas decisões estratégicas.
A Cielo está inserida na EloPar, uma holding controlada por Bradesco e Banco do Brasil. Essa estrutura inclui a bandeira Elo, o programa de fidelidade Livelo, a empresa de benefícios Alelo e a tag de pedágio Veloe. Essa complexa teia societária, embora ofereça suporte, exige um consenso para cada movimento estratégico, o que pode atrasar decisões importantes.
A aquisição não se limita mais à prestação de serviços de pagamento, mas sim como uma porta de entrada para um conjunto mais amplo de serviços financeiros. O modelo da Cielo impede a integração total com os produtos dos bancos controladores e carece da agilidade das novas empresas do mercado. A Cielo testou algumas soluções, mas o avanço tem sido lento.
Executivos do mercado consideram esse desalinhamento como um ponto fraco. A empresa enfrenta dificuldades para equilibrar as visões de dois bancos concorrentes, enquanto o mercado se move rapidamente. A saída da bolsa pode proporcionar fôlego para mudanças estruturais, mas marca o fim de um ciclo onde as credenciadoras atuavam como protagonistas independentes.
Nos anos 2000, a Cielo viveu seu auge. Entre 2002 e 2005, o volume financeiro da então VisaNet cresceu cerca de 20% ao ano, alcançando 800 mil pontos de venda. A empresa focava em incentivar o uso do cartão, mesmo que isso afetasse a rentabilidade no curto prazo. No entanto, esse crescimento atraiu a atenção do Banco Central e estimulou a concorrência.
Com a mudança na regulação, a VisaNet, agora Cielo, passou a processar Mastercard, e a Redecard teve que aceitar Visa. O mercado se abriu para novos credenciadores, como Stone, PagSeguro, Getnet, SafraPay e Mercado Pago, que ofereciam taxas menores e aplicativos mais simples. A forte concorrência reduziu as taxas cobradas dos lojistas e as margens das empresas, popularizando os terminais.
Em 2021, o registrador de recebíveis permitiu que os lojistas antecipassem suas vendas com qualquer instituição financeira, reduzindo a principal fonte de lucro das adquirentes. A chegada do Pix também impactou, ao reduzir o uso do débito e parte da receita das maquininhas. O Pix não elimina o cartão, mas muda o foco para a oferta de serviços, em vez da mera captura da transação.
Quando um cartão é usado em uma maquininha, inicia-se um processo complexo. O lojista precisa ter meios de aceitar o pagamento e a garantia de que receberá o valor. A maquininha envia os dados à bandeira (Visa, Mastercard, Elo), que os transmite ao banco emissor do cartão para aprovação. Se a transação for autorizada, o valor leva até 30 dias para chegar à conta do comerciante.
A Cielo garante a liquidação do valor, mesmo que ocorram imprevistos. Pelo serviço, cobra uma taxa do lojista, que é dividida entre o banco emissor, a bandeira e a credenciadora. Uma parte significativa do lucro vinha da antecipação de recebíveis, onde a credenciadora pagava o valor ao lojista com desconto e financiava a diferença, cobrando juros sobre o risco.
Além da antecipação, as adquirentes lucram com a taxa de desconto, o aluguel dos terminais e comissões de conectividade. Essas receitas garantiam margens elevadas, mas a crescente concorrência apertou as margens. O desafio das empresas de meio de pagamento é se adaptar à velocidade com que as transações são processadas.
Via InvestNews