Em 2016, Wen Shuhao, físico chinês com pós-doutorado pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), apresentou à Pfizer um programa inovador. Utilizando IA para novos medicamentos e física quântica, o programa buscava estruturas moleculares para produção de fármacos. O resultado? Precisão de 100%, uma parceria de dez anos com a Pfizer e uma contribuição crucial para o desenvolvimento do Paxlovid durante a pandemia.
Wen Shuhao, cofundador e presidente da Xtalpi, destacou a importância dos algoritmos da empresa no desenvolvimento do Paxlovid. A Xtalpi, após colaborar com gigantes farmacêuticas como Eli Lilly, Johnson & Johnson e Merck, expandiu sua tecnologia. Agora, além da IA para novos medicamentos, a empresa atua nos setores de painéis solares e baterias para veículos elétricos.
A Xtalpi projeta atingir o equilíbrio de Ebitda em 2025. A empresa espera que a receita da descoberta de materiais iguale a da descoberta de medicamentos nos próximos três anos. No primeiro semestre de 2024, a Xtalpi registrou uma receita de US$ 14 milhões (102,6 milhões de yuans). Desse montante, a maior parte veio da IA para novos medicamentos, e o restante de serviços de descoberta de materiais.
O crescimento de 28% nas vendas inclui o primeiro pagamento de marco clínico da Signet Therapeutics. Um medicamento da Xtalpi para câncer gástrico difuso recebeu aprovação da FDA para testes em humanos. Apesar do aumento da receita, o prejuízo líquido subiu 46%, chegando a 1,3 bilhão de yuans, devido à desvalorização de ações preferenciais. A Xtalpi investiu 210,4 milhões de yuans em pesquisa e desenvolvimento, 10% menos que em 2023.
A inspiração de Wen surgiu ao ajudar um primo a encontrar medicamentos mais acessíveis para câncer de fígado na China. Ele percebeu a disparidade entre o desenvolvimento farmacêutico nos EUA e na China, onde pacientes dependiam de remédios importados. Wen, então, decidiu usar seu conhecimento para reduzir essa lacuna. Fundou a Xtalpi em 2015 com Ma Jian e Lai Lipeng, também pós-doutorandos do MIT.
A Xtalpi se tornou uma das pioneiras na IA para novos medicamentos na Ásia, atraindo investidores. A empresa levantou US$ 732 milhões com apoio da Tencent, Hongshan, 5Y Capital, Google, Susquehanna International Group, Sino Biopharmaceutical e Vision Fund 2 (SoftBank). Em junho de 2024, a Xtalpi abriu seu capital em Hong Kong, com um IPO de US$ 127 milhões.
A Xtalpi utiliza algoritmos de física quântica para prever interações moleculares, aprimorando a eficácia e segurança dos medicamentos. Esses algoritmos calculam estruturas moleculares e treinam modelos de IA. Os modelos, por sua vez, analisam bilhões de moléculas, identificando candidatas a novos medicamentos, que são testadas em laboratórios robóticos em Shenzhen, Xangai e Somerville (Massachusetts).
A Xtalpi se diferencia por fornecer algoritmos para descoberta de medicamentos em estágio inicial, acelerando o processo em 50%. Isso auxilia empresas farmacêuticas a identificar e otimizar moléculas para testes clínicos. Ted Jing, da 5Y Capital, ressalta a combinação única de física quântica, IA e robótica da Xtalpi. Segundo ele, esse modelo de negócios foca no desenvolvimento tecnológico, atraindo clientes.
Existem, porém, questionamentos sobre a tecnologia. Derek Lowe, veterano da indústria farmacêutica, argumenta que simular interações moleculares é complexo e que as simulações quânticas atuais não são confiáveis para treinar modelos de IA. Ele ressalta que, mesmo que funcione, a Xtalpi acelera apenas a etapa inicial da descoberta, enquanto os testes em humanos, com 85% de taxa de falha, permanecem um desafio.
Wen, no entanto, vê o Prêmio Nobel de Química de 2024, concedido à equipe do AlphaFold, como prova do potencial da IA. O AlphaFold, ferramenta de IA do Google DeepMind, prevê estruturas de proteínas, auxiliando no desenvolvimento de medicamentos. Wen destaca que as 10 maiores farmacêuticas investem em IA, e a Xtalpi firmou parceria com a Eli Lilly para descoberta de medicamentos. A Xtalpi expandiu para a descoberta de novos materiais. Wen acredita que a física quântica, combinada com IA e testes robóticos, pode aprimorar painéis solares, baterias e fertilizantes. Ele vê potencial na comercialização da perovskita, material para painéis solares mais eficientes, e em baterias de estado sólido para veículos elétricos. A GCL Holdings investiu US$ 135 milhões na Xtalpi para desenvolvimento de materiais, incluindo perovskita e baterias. Lowe, por sua vez, acredita que a Xtalpi teria mais sucesso focando apenas em materiais.
A Xtalpi firmou parceria com a Microsoft China para desenvolver modelos de IA para descoberta de medicamentos e materiais. Wen está confiante no sucesso da empresa em ambas as áreas.
Via Forbes Brasil