As emissões internacionais da Crédito da Braskem estão em seu ponto mais baixo, com descontos de até 42% sobre o valor de face. O mercado observa que, enquanto se discute o futuro da petroquímica, a situação financeira e operacional da empresa se agrava a cada trimestre, exigindo medidas eficazes para reverter o quadro.
Analistas de crédito apontam que a Braskem enfrenta um cenário complexo, com a combinação de um ciclo petroquímico desfavorável, que já dura três anos, e problemas internos. Essa situação tem pressionado as margens da companhia, que registrou um EBITDA de apenas 7% no primeiro trimestre, além de um alto consumo de caixa.
No primeiro trimestre, a Braskem teve uma geração de caixa operacional negativa de quase R$ 1 bilhão. Considerando o serviço da dívida, esse valor sobe para R$ 2,4 bilhões, e incluindo os desembolsos relacionados ao acidente de Maceió, o montante atinge R$ 2,7 bilhões. A dívida líquida da Braskem atualmente é de cerca de R$ 37 bilhões, com uma alavancagem de 7,9 vezes o EBITDA, que foi de R$ 1,3 bilhão no primeiro trimestre.
Um executivo do setor destaca que a alavancagem da Braskem pode ser ainda maior, chegando a mais de 11 vezes o EBITDA, se forem consideradas as operações de antecipação de recebíveis e as extensões de prazos com fornecedores. Essas operações, embora não sejam dívidas diretas, dependem da renovação de linhas de crédito de curto prazo para o capital de giro, o que pode se tornar um problema se a empresa não conseguir rolar essas dívidas.
O mercado começa a acreditar que a solução para o endividamento da Braskem pode envolver medidas drásticas, como uma recuperação judicial ou extrajudicial. Além disso, a Braskem precisa realizar um capex significativo nos próximos anos para manter a competitividade de seu etileno.
A cadeia petroquímica é dividida em primeira e segunda gerações. Na primeira geração, onde a Braskem é a única empresa no Brasil, o etileno e o propeno são produzidos a partir de nafta ou gás, utilizando crackers. Esses produtos são então utilizados na segunda geração para produzir polietileno, polipropileno e PVC. Atualmente, 80% da matéria-prima utilizada pela Braskem na primeira geração é nafta.
O etileno produzido a partir da nafta é menos competitivo do que o etileno produzido a partir do gás, que tende a ser mais barato. Como a Braskem utiliza o etileno que produz, isso impacta a competitividade de seus produtos de segunda geração, contribuindo para a compressão de suas margens.
A Braskem terá que investir para migrar sua base de primeira geração da nafta para o gás, a fim de se manter competitiva. Esse investimento é elevado e, considerando o atual custo de capital da Braskem, pode não gerar o retorno necessário. Além disso, a Braskem já desembolsou R$ 12,7 bilhões para reparar os danos causados pelo desastre em Maceió e tem outros R$ 5 bilhões provisionados.
O valor total que a Braskem terá que desembolsar ainda é incerto, já que há ações coletivas pedindo a revisão do acordo firmado com as famílias afetadas, o que pode aumentar significativamente os custos. No quarto trimestre do ano passado, a Braskem adicionou R$ 1,3 bilhão às suas provisões, recalculando o valor das linhas de provisões já existentes.
O futuro da Braskem depende da negociação de um novo investidor com o sindicato de bancos que detém R$ 19,9 bilhões em créditos contra a Novonor, sua controladora. Essa dívida é garantida por 38% do capital que a família possui na companhia. Desde 2019, quando a Lyondell desistiu de sua oferta, empresas como Apollo, Unipar, J&F e Adnoc estudaram a empresa ou fizeram propostas, que envolviam algum nível de haircut na dívida, uma capitalização da empresa e a manutenção de uma participação minoritária para a família.
Os bancos não executaram a dívida até o momento, temendo ações judiciais e o passivo de Alagoas. Atualmente, os bancos consideram assumir o controle da companhia, aportando suas ações no FIP de um gestor que administraria a posição. Em paralelo, Nelson Tanure, alinhado com os Odebrecht, contratou o Rothschild para negociar com os bancos e a Petrobras, que tem o direito de preferência em caso de execução das garantias da Novonor. A Petrobras, no entanto, não pretende exercer esse direito, mas quer influir no comando da empresa.
A situação atual da Braskem é complexa, envolvendo questões financeiras, operacionais e legais. A empresa precisa lidar com um ciclo petroquímico desfavorável, um alto nível de endividamento, a necessidade de investimentos para manter a competitividade e os custos relacionados ao desastre de Maceió. A negociação com os bancos e a busca por um novo investidor são cruciais para o futuro da companhia.
Via Brazil Journal