No dinâmico mundo dos investimentos, os ETFs ativos nos EUA têm ganhado destaque, impulsionados pela promessa de serem tão acessíveis quanto os ETFs tradicionais e com a sofisticação de um fundo bem gerido. Essa combinação atraente tem levado a um crescimento notável nos últimos anos, superando, inclusive, o número de ETFs passivos listados nas bolsas americanas. Mas, afinal, o que está por trás desse fenômeno e como ele impacta o mercado financeiro?
Atualmente, nos Estados Unidos, cerca de 51% dos quase 4.300 ETFs disponíveis incorporam algum nível de gestão discricionária, conforme apontam dados da Bloomberg Intelligence. Esse percentual representa um salto significativo em relação aos 23% registrados há cinco anos, demonstrando uma mudança notável na preferência dos investidores.
A crescente popularidade dos ETFs ativos nos EUA pode ser atribuída à sua capacidade de atrair investidores que buscam retornos diferenciados. Esses fundos, ao contrário dos ETFs passivos, não se limitam a replicar um índice de referência, oferecendo uma gestão mais flexível e adaptada às condições do mercado.
Além do aumento no número de produtos, os ETFs ativos nos EUA também têm captado uma parcela expressiva dos fluxos de investimento. Recentemente, esses fundos receberam 40% do capital destinado a fundos listados nos EUA, impulsionado pela procura por ETFs alavancados, que utilizam opções para amplificar os retornos de índices e ações.
Desde 2019, a fatia dos ETFs ativos no mercado de fundos listados saltou de 2% para 10%, refletindo o impacto positivo da nova regulamentação da SEC, conhecida como ETF Rule. Essa norma simplificou o processo de criação de novas estratégias de investimento e aprimorou as regras tributárias, impulsionando o crescimento da classe.
Analistas do setor apontam que a ETF Rule foi um marco crucial, conferindo maior profundidade aos ETFs ativos nos EUA. Antes focados em estratégias quant e temáticas, esses fundos ganharam complexidade, assemelhando-se, em muitos aspectos, aos fundos de investimento tradicionais, mas com taxas de administração mais competitivas, em torno de 0,6% ao ano, contra 1% dos fundos de gestão ativa não listados, segundo a Morningstar.
Essa combinação de taxas mais baixas e gestão ativa atraiu investidores e exerceu pressão sobre as gestoras tradicionais, levando algumas a espelhar ou transformar seus fundos não listados em ETFs ativos nos EUA. A ARK, de Cathie Wood, é um exemplo notório dessa tendência.
No entanto, as casas já consolidadas no mercado de ETFs, como BlackRock, Vanguard, Invesco e JP Morgan, têm liderado o lançamento de produtos ativos nos EUA nos últimos anos. Agora, essas empresas buscam expandir seu sucesso para a Europa, onde o mercado de ETFs ativos ainda está em desenvolvimento.
Apesar do otimismo de algumas gestoras, como a Janus Henderson, que projeta um mercado europeu de ETFs ativos com US$ 1 trilhão sob gestão até 2030, o investidor europeu historicamente demonstra resistência a esses produtos. Os ETFs passivos nunca alcançaram grande popularidade na Europa, representando apenas 10% do mercado de fundos, em comparação com mais de 50% nos EUA, de acordo com a Bloomberg.
Ainda assim, os ETFs ativos têm ganhado espaço na Europa, recebendo 8% do fluxo destinado a fundos listados no continente no ano passado, superando sua fatia de mercado de 2,7%, segundo o Financial Times. No Brasil, a discussão sobre ETFs ativos ainda é incipiente, uma vez que esses produtos não foram regulamentados no país.
A CVM, responsável pela regulamentação do mercado de capitais no Brasil, impõe restrições significativas aos ETFs, não permitindo, por exemplo, ETFs inversos, alavancados e sintéticos. Além disso, o mercado de ETFs no Brasil é relativamente pequeno, somando pouco mais de R$ 50 bilhões, o que representa menos de 1% do patrimônio total do setor de fundos de investimento.
Essa baixa adesão aos ETFs no Brasil pode ser atribuída, em parte, à atração dos investimentos isentos e de renda fixa, bem como ao modelo de remuneração dos assessores de investimento, que ainda se concentra em rebates, prática não adotada pelos ETFs. No entanto, o crescimento do modelo fee-based, em que o investidor paga pela assessoria financeira, pode contribuir para mudar esse cenário.
Paralelamente, a Anbima planeja propor à CVM uma atualização da legislação específica sobre ETFs, o que poderia viabilizar a oferta de ETFs ativos aos investidores brasileiros até 2027, dependendo do parecer do regulador. Resta saber se, quando disponíveis, esses produtos trarão os retornos esperados.
Um estudo do Wall Street Journal sobre o retorno de ETFs de ações nos últimos 15 anos revelou que os ETFs ativos com foco em blue chips entregaram um rendimento médio anual de 12,4%, abaixo dos 13,5% dos ETFs passivos e dos 12,6% dos mutual funds. No Brasil, as gestoras independentes demonstram pouca convicção em relação aos ETFs ativos.
Em termos tributários, a legislação brasileira equipara os fundos de ações e os ETFs, com uma alíquota de 15% sobre o ganho líquido. A vantagem dos ETFs se limitaria aos fundos multimercados, nos quais incide o come-cotas. A regulamentação dos ETFs ativos no Brasil representaria um passo importante para diversificar as opções de investimento disponíveis aos investidores.
Via Brazil Journal