Crescimento de trabalhadores acima de 60 anos e suas implicações

Entenda o crescimento de trabalhadores acima de 60 anos no Brasil e suas implicações para o mercado.
24/08/2025 às 08:41 | Atualizado há 3 dias
Trabalhadores com mais de 60
Crescimento do segmento ressalta o adiamento da aposentadoria e a busca por renda extra. (Imagem/Reprodução: Infomoney)

O mercado de trabalho brasileiro está passando por mudanças significativas, refletindo o aumento da longevidade e a evolução das normas previdenciárias. Segundo dados do IBGE, o número de trabalhadores com mais de 60 anos já alcança 8,6 milhões, evidenciando uma crescente necessidade de permanência na ativa, seja por decisões pessoais ou financeiras.

José Alberto, porteiro com 60 anos, ilustra essa nova realidade ao optar por continuar no mercado devido à necessidade de complementar sua renda. Essa escolha se torna comum, principalmente em um cenário onde muitos enfrentam a possibilidade de aposentadoria insuficiente para suas necessidades financeiras. As mudanças demográficas exigem que as empresas repensem suas políticas com relação a esses trabalhadores experientes.

As perspectivas são reforçadas por pesquisadores que afirmam que a faixa etária acima de 60 anos é a que mais cresce no mercado de trabalho. Essa transformação carrega implicações importantes para o desenvolvimento econômico e demanda a promoção de políticas públicas que valorizem a experiência. Para uma adaptação adequada à nova realidade demográfica, é essencial um ambiente de trabalho inclusivo que combata o etarismo.
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O mercado de trabalho está passando por transformações significativas, impulsionadas pelo aumento da longevidade e pelas mudanças nas políticas de previdência. Um levantamento recente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revela um crescimento notável no número de trabalhadores com mais de 60 anos, sinalizando uma tendência de permanência prolongada na ativa, seja por necessidade financeira ou por escolha.

José Alberto Soares Lins, um porteiro de 60 anos em Brasília, personifica essa realidade. Mesmo perto da aposentadoria, ele planeja continuar trabalhando para complementar sua renda, uma decisão compartilhada por muitos que enfrentam a perspectiva de uma aposentadoria insuficiente para cobrir os gastos familiares. Essa escolha reflete um cenário mais amplo, onde a combinação do envelhecimento populacional e as novas regras da aposentadoria incentivam os brasileiros a permanecerem ativos por mais tempo.

De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, o número de pessoas ocupadas com 60 anos ou mais teve um aumento expressivo de 76% em pouco mais de uma década, saltando de 4,9 milhões no segundo trimestre de 2012 para 8,6 milhões no mesmo período deste ano. Na faixa etária de 40 a 59 anos, o crescimento foi de 32%, passando de 31 milhões para 41 milhões no mesmo período. Esses números refletem uma mudança demográfica importante, onde a população economicamente ativa está envelhecendo.

O levantamento, conduzido pelo pesquisador Rogério Nagamine, ex-secretário do Regime Geral da Previdência, aponta que essa tendência é resultado do envelhecimento acelerado da população e da introdução da idade mínima para a aposentadoria pela Reforma da Previdência em 2019. Além disso, a conjuntura econômica também desempenha um papel crucial, impulsionando os brasileiros a permanecerem no mercado de trabalho por mais tempo para garantir uma renda estável.

Com o aumento da longevidade, crescem também as necessidades financeiras das pessoas em idade de se aposentar. Ao mesmo tempo, a redução no número de jovens torna os profissionais mais maduros cada vez mais importantes no mercado de trabalho. Nagamine destaca que o grupo de trabalhadores ocupados que mais cresceu está na faixa etária de 60 anos ou mais, evidenciando uma mudança significativa na composição da força de trabalho brasileira.

Eloisa Biasuz, uma funcionária pública de 57 anos, é um exemplo de como a Reforma da Previdência impactou os planos de aposentadoria. Ela pretende continuar trabalhando até 2029 para evitar uma perda de 20% em sua renda. Fátima Xavier, de 55 anos, aposentou-se em janeiro de 2024 e, diante da queda na renda, decidiu empreender abrindo uma corretora de seguros para complementar sua aposentadoria, utilizando sua experiência de 19 anos no setor bancário.

A demografia indica que as empresas não poderão ignorar os profissionais mais experientes por muito tempo. O número de trabalhadores entre 25 e 39 anos cresceu apenas 3,6% em 13 anos, resultando em uma diminuição na participação dessa faixa etária no total de ocupados no país. A fatia do segmento entre 18 e 24 anos também encolheu 6% desde 2012, enquanto a de 14 a 17 anos retraiu quase 50%, refletindo menores taxas de natalidade e maior permanência de adolescentes na escola.

Alexandre Oliveira Ribeiro, economista e doutorando em Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), observa que essa mudança demográfica tende a elevar naturalmente os níveis de ocupação entre os mais velhos, que vivem mais e precisam complementar suas pensões. Ele ressalta que essa variação é impulsionada pelo envelhecimento populacional, que interage com mudanças econômicas, comportamentais, políticas, legislativas, tecnológicas e de saúde, resultando em uma maior absorção de mão de obra em idade avançada.

Diante desse cenário, Ribeiro defende a necessidade de políticas públicas que melhorem a situação dos trabalhadores com mais de 60 anos em todos os grupos socioeconômicos. Ele enfatiza que, além de promover o envelhecimento ativo, essas ações são cruciais para mitigar externalidades negativas, como o etarismo, e garantir a rápida adaptação do Brasil à nova realidade da demografia mundial, onde a experiência e o conhecimento dos profissionais mais velhos são cada vez mais valorizados.

O aumento da participação dos trabalhadores com mais de 60 no mercado de trabalho reflete uma transformação demográfica e econômica que exige uma adaptação das políticas públicas e das empresas. A valorização da experiência e do conhecimento desses profissionais pode ser um diferencial para o desenvolvimento do país, desde que sejam implementadas medidas para combater o etarismo e garantir um ambiente de trabalho inclusivo e respeitoso.

Via InfoMoney
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Artigos colaborativos escritos por redatores e editores do portal Vitória Agora.