Após sobreviver a uma moção de censura, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, enfrenta questionamentos sobre suas recentes mudanças de postura em temas importantes. A moção foi motivada pelo “Pfizergate“, um escândalo que a acusava de favorecer a Pfizer na compra de vacinas durante a pandemia. Apesar de ter superado a votação, a insatisfação entre os aliados é evidente.
Eleita em 2019 com a promessa de tornar a Europa o primeiro continente com emissão zero até 2050 através do “Green Deal“, Von der Leyen também defendia fronteiras mais humanizadas. No entanto, a realidade política a forçou a adaptar-se, principalmente em questões de sustentabilidade e imigração, refletindo uma mudança na opinião pública europeia.
Essa adaptação tem afastado o Partido Popular Europeu (EPP) de sua base original de apoio, que incluía socialistas, democratas, o grupo Renovar Europa e os Verdes. Para avançar com suas propostas, Von der Leyen tem dependido cada vez mais dos grupos à direita, o que a obriga a ceder terreno em suas iniciativas políticas.
Em outubro de 2024, Von der Leyen defendeu a instalação de “centros de retorno” para imigrantes fora da União Europeia e a criação de “centros de processamento” para pedidos de asilo. A guinada à direita ficou ainda mais clara nas negociações do orçamento de 2025, quando o EPP se uniu a grupos nacionalistas para incluir dotações para “barreiras físicas nas fronteiras”.
Nas políticas climáticas, o Green Deal também sofreu alterações. Pressionada, Von der Leyen apoiou medidas de flexibilização propostas por Manfred Weber, do EPP. Exigências de redução de emissões foram relaxadas, dotações foram redirecionadas e regras para empresas e indústrias foram revistas.
Em julho deste ano, o EPP recusou apoiar uma iniciativa que impediria maior influência do grupo Patriotas da Europa nas discussões sobre os objetivos climáticos do bloco para 2040. Agora, o Patriotas, um opositor da agenda verde da UE, será responsável por desenvolver a proposta e defendê-la nas negociações com os países membros.
A mudança de postura da Comissão Europeia, sob a liderança de Von der Leyen, não passou despercebida. À esquerda, há resignação, enquanto à direita há comemoração. Enikő Győri, do partido húngaro Fidesz, afirmou que o EPP precisa aprender que sua única chance de corrigir os erros da política econômica europeia é ao lado deles.
Essa situação demonstra que, em um ambiente democrático, todos têm o direito de se manifestar. O voto popular determina a direção das políticas. Se a opinião pública muda, aqueles no poder se adaptam para atender às novas demandas, mesmo que isso signifique criticar o que antes defendiam.
Von der Leyen, assim como outros líderes, adapta-se às mudanças nas percepções da população. A política, no entanto, nem sempre segue uma lógica simples ou clara. As decisões políticas são influenciadas pelo poder do voto e pela capacidade de adaptação de quem busca se manter no poder.
Via Danuzio News