No mundo da arte, segredos podem se esconder por séculos. Recentemente, uma surpresa aguardava sob a tela do quadro _Retrato de Mateu Fernández de Soto_ de Pablo Picasso: a imagem de uma **Mulher no fundo de quadro**. A descoberta, feita por pesquisadores do Instituto Courtauld de Arte, revela uma faceta oculta do artista e levanta questões sobre a identidade da retratada.
Exames detalhados com raios-X e infravermelho possibilitaram ver através das camadas de tinta. A imagem revelada sob o _Retrato de Mateu Fernández de Soto_ mostra uma mulher com um penteado chignon, um estilo popular na Paris do começo do século XX. Essa imagem remete a outras figuras femininas retratadas por Picasso na mesma época, como em _A Bebedora de Absinto_ e _Mulher com os Braços Cruzados_.
Os pesquisadores observaram ainda a presença de uma outra cabeça em camadas mais profundas da pintura. Isso indica que Picasso reutilizava suas telas e as repintava várias vezes. Esse reaproveitamento de materiais não era incomum para Picasso, especialmente devido às suas dificuldades financeiras na juventude.
O mais interessante é que Picasso não simplesmente apagava as imagens anteriores. Ele incorporava elementos das composições subjacentes nas novas pinturas, como explicou Kenneth Brummel, co-curador de uma exposição sobre o artista, em entrevista ao jornal _Washington Post_.
Apesar da descoberta, a identidade da Mulher no fundo de quadro permanece um mistério. Não se sabe se ela era uma modelo, amiga, ou alguém próximo ao pintor. A imagem foi, de alguma forma, apagada pelo artista, talvez como uma forma de descartar uma memória ou um momento de sua vida.
A descoberta da imagem da Mulher no fundo de quadro aconteceu durante um escaneamento por infravermelho, realizado antes da inclusão da pintura em uma exposição na Galeria Courtauld, em Londres. Barnaby Wright, vice-diretor da galeria, comentou à _CNN_ que, ao comparar a imagem técnica com a pintura finalizada, é possível identificar traços da figura feminina, como o olho, a orelha e o cabelo.
A pintura _Retrato de Mateu Fernández de Soto_ marca um período de transição no estilo de Picasso. Ele se afastava das cores vibrantes e do impressionismo para um estilo mais melancólico, que se tornou conhecido como o Período Azul. Esse período foi influenciado pelo suicídio de seu amigo Carlos Casagemas. Após a morte de Casagemas, Picasso se mudou para o ateliê do amigo em Paris e lá conheceu o escultor espanhol Mateu Fernández de Soto, que mais tarde seria retratado no quadro. A pintura na parede ao fundo do _Retrato de Mateu Fernández de Soto_ retrata o enterro de Casamegas.
Kerstin Richter, curador que colaborou com a pesquisa, ressaltou a complexidade da obra. Ele explica que, quando o colecionador Oskar Reinhart adquiriu a obra em 1935, ela era vista apenas como um retrato de um entalhador desconhecido. Hoje, a pesquisa permite conhecer a identidade do retratado e sua importância na vida de Picasso, além de visualizar as camadas do processo criativo do jovem pintor.
A revelação da Mulher no fundo de quadro sob a tela de Picasso nos leva a refletir sobre as histórias que as obras de arte podem carregar. A imagem oculta nos convida a imaginar quem foi essa mulher e qual o motivo de ter sido escondida sob as pinceladas do artista. A arte continua a nos surpreender, revelando segredos e nos conectando com o passado de maneiras inesperadas.
