Uma investigação recente revelada pelo _The Guardian_ e _O Globo_ expõe o uso de dispositivos de áudio movidos a energia solar por missionários cristãos, na tentativa de Evangelização de indígenas isolados na Amazônia, próximos à fronteira entre Brasil e Peru. Os aparelhos, que reproduzem mensagens bíblicas em português e espanhol, foram encontrados no Vale do Javari, território protegido e habitado pelo povo Korubo.
A presença desses dispositivos em áreas de proteção governamental levanta questões sobre as estratégias e o alcance da Evangelização de indígenas na região. Antes da pandemia, a área já havia sido alvo de missionários brasileiros e americanos, indicando uma persistência nas tentativas de contato e conversão.
Os dispositivos de áudio, encontrados em território indígena, possuem características específicas. Com cores amarela e cinza, e tamanho similar ao de um celular, eles são equipados com lanterna e painel solar. Essa configuração permite o funcionamento autônomo, sem necessidade de eletricidade ou internet, facilitando a reprodução de mensagens religiosas em áreas remotas.
O aparelho, chamado “Messenger”, pertence à In Touch Ministries, uma organização batista dos Estados Unidos. Ele contém passagens da Bíblia e palestras de um pastor americano. Uma das mensagens encontradas faz referência a um trecho bíblico de Filipenses, capítulo 3, versículo 4, buscando estabelecer uma conexão religiosa com os ouvintes.
A população local relatou a existência de vários desses dispositivos no território, mas apenas um foi encontrado, em posse da matriarca do povo Korubo, Mayá. Segundo Seth Grey, porta-voz da In Touch Ministries, o Messenger é durável e pode ser usado por grupos de até 20 pessoas. Ele também afirmou que 48 aparelhos foram entregues ao povo Wai Wai, que também vive na Amazônia, há quatro anos.
O diretor da In Touch Ministries confirmou que a organização não atua em áreas onde a legislação não permite, indicando que o dispositivo não deveria estar no Vale do Javari. Grey também mencionou que missionários de outras organizações estariam burlando a lei, levando o Messenger para territórios protegidos, ampliando o debate sobre a Evangelização de indígenas e o respeito às leis locais.
Além dos dispositivos de áudio, a presença de drones sobrevoando a região tem sido notada. Os policiais que atuam no posto de proteção tentaram abater as aeronaves, sem sucesso. A origem dos drones é desconhecida, levantando suspeitas sobre o envolvimento de missionários, garimpeiros, pescadores ou traficantes.
O Ministério Público Federal está acompanhando o caso para garantir os direitos dos povos isolados. A presença de missionários na área é vista com preocupação, principalmente diante da mudança de métodos para tentar a conversão dos indígenas, intensificando as discussões sobre a Evangelização de indígenas e seus impactos.
O proselitismo é proibido no território Korubo desde 1987, por determinação da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI). O acesso controlado visa proteger os grupos indígenas de doenças às quais eles possuem pouca ou nenhuma imunidade.
Diante desse cenário, a questão da Evangelização de indígenas na Amazônia continua a gerar debates e preocupações, envolvendo direitos dos povos isolados, legislação e métodos utilizados. As investigações e o acompanhamento das autoridades são cruciais para garantir a proteção dessas comunidades.
Via TecMundo