Embraer considera instalar fábrica nos EUA para enfrentar guerra comercial

A Embraer estuda novas opções de fábrica nos EUA para contornar desafios da guerra comercial, impactando o setor aeronáutico.
29/07/2025 às 06:42 | Atualizado há 4 dias
eVTOL da Eve
Capacidade de produção no Brasil exige nova planta, mas momento é visto como transitório. (Imagem/Reprodução: Infomoney)

A Eve Air Mobility, uma subsidiária da Embraer (EMBR3), está se preparando para entregar seus primeiros eVTOLs, também conhecidos como “carros voadores”, nos próximos meses. Diante de tensões comerciais globais e possíveis tarifas de exportação para os Estados Unidos, a empresa considera instalar uma fábrica nos EUA, embora veja a situação atual como temporária. Essa medida visa otimizar a logística e atender à crescente demanda do mercado americano.

O CEO da Eve Air Mobility, Johann Bordais, revelou que a estratégia logística da empresa permite que a montagem final ocorra no país de destino. Com 70% de sua carteira de pedidos vindo dos EUA, a Eve tem a flexibilidade de considerar uma fábrica no país. A fábrica atual, localizada em Taubaté, São Paulo, possui uma capacidade de produção modular, começando com 120 unidades por ano e podendo chegar a 480. Para aumentar ainda mais a produção, seria necessário construir uma nova fábrica.

A expectativa é que os eVTOLs comecem a ser vendidos em 2027. Os testes com um protótipo de engenharia estão programados para começar até o final do ano em Gavião Peixoto, São Paulo. Bordais explicou que o cronograma de testes é flexível, permitindo ajustes conforme necessário.

O modelo de negócios da Eve se concentra na venda para operadores de frotas de transporte aéreo urbano, utilizando a infraestrutura existente de helipontos. Simulações indicam que a expansão da infraestrutura para carros e ônibus elétricos facilitará o carregamento dos eVTOLs. Atualmente, a Eve possui 2,8 mil pedidos, totalizando US$ 14 bilhões em preços de tabela. Inicialmente, os eVTOLs serão utilizados em rotas urbanas, mas rotas intermunicipais podem ser viáveis com o avanço das baterias.

Johann Bordais enfatizou que a Eve está atenta às decisões governamentais que podem impactar seu modelo de negócios. A empresa se beneficia do apoio da Embraer em áreas como engenharia, industrialização, finanças e relações governamentais. O impacto das atuais tensões comerciais é considerado mínimo, pois as entregas estão previstas para começar em pouco mais de dois anos, e 40% a 50% do conteúdo do veículo é americano, o que reduz as tarifas. Além disso, parte do custo é de mão de obra local.

Em relação à possível tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada, Bordais confirmou que a montagem nos Estados Unidos está sendo analisada. Se a taxação persistir, a Eve precisará ser flexível. Atualmente, o eVTOL da Eve é produzido em Taubaté e, após os testes, é desmontado e enviado em contêineres. O projeto logístico permite que a montagem final ocorra no país de destino, e a alta demanda nos EUA justifica a consideração de uma fábrica local.

Durante o Paris Air Show 2025, a Eve anunciou o início dos testes do eVTOL da Eve. Os testes serão realizados com um protótipo de engenharia em Gavião Peixoto para validar tecnologias e confirmar modelos de engenharia. A fase de testes inclui a integração de vários sistemas, como eletrificação, motor e bateria. A partir do próximo ano, protótipos de certificação serão fabricados em São José dos Campos para a certificação do veículo junto à Anac.

A Eve também está realizando simulações operacionais (CONOPS) em cidades como Rio de Janeiro e Chicago para entender os desafios do ecossistema e preparar a infraestrutura necessária. A empresa fechou um contrato de US$ 250 milhões com a Revo, uma operadora de helicópteros de São Paulo, indicando que os veículos serão operados por empresas especializadas e não por pessoas físicas.

O processo de certificação é bem estabelecido devido à experiência da Embraer na certificação de aeronaves. Após o primeiro voo do protótipo, a certificação e entrega devem levar de 15 a 18 meses. A certificação inicial será no Brasil, seguida pela entrega aos clientes nos EUA a partir de 2028, por meio de um acordo bilateral entre a Anac e a FAA.

O mercado de eVTOLs tem o potencial de substituir e complementar os helicópteros existentes. Embora a autonomia atual seja de 100 quilômetros devido às limitações da bateria, a maioria das rotas ideais está entre 30 e 40 quilômetros. Isso permite operações urbanas intensas com recargas rápidas. A infraestrutura para vertiportos, que podem estar no solo para facilitar a conexão intermodal, está se desenvolvendo, e a rede elétrica está se adaptando graças ao avanço dos carros e ônibus elétricos.

Espera-se que os eVTOLs se tornem parte da paisagem urbana, integrados ao transporte intermodal. A Revo, por exemplo, começou com helicópteros caros e agora oferece voos por preços mais acessíveis, mostrando o potencial de crescimento desse mercado. Com o avanço da autonomia da bateria, os eVTOLs poderão realizar viagens interurbanas mais longas, expandindo o mercado de mobilidade aérea.

Via InfoMoney

Artigos colaborativos escritos por redatores e editores do portal Vitória Agora.