A indicação ao Oscar de Karla Sofía Gascón, estrela de “Emilia Pérez”, trouxe à tona uma nova realidade na corrida pelo prêmio: os escândalos virtuais Oscar. A atriz, anteriormente conhecida por seu trabalho em novelas mexicanas, se assumiu publicamente como mulher trans. Seu passado, porém, voltou à tona.
Postagens antigas na plataforma X, reveladas pela jornalista Sarah Hagi, mostravam comentários ofensivos a muçulmanos e a George Floyd, além de críticas a vencedores diversos do Oscar de 2021. A Netflix, distribuidora de “Emilia Pérez”, emitiu um comunicado com as desculpas da atriz.
Em vez de se retrair, Gascón adotou uma postura desafiadora. Ela desativou sua conta no X, enviou uma mensagem ao The Hollywood Reporter e concedeu uma entrevista à CNN En Español, onde negou a gravidade das declarações e se recusou a renunciar à indicação.
Sua defesa, veiculada no Instagram, manteve a polêmica em evidência. A Netflix ainda não se pronunciou sobre as ações da atriz, precisando definir uma estratégia para lidar com a crise e a campanha de prêmios, que antes parecia promissora com 13 indicações.
Esse caso exemplifica uma tendência crescente: a facilidade com que controvérsias online, antes ignoradas, ganham força e afetam a temporada do Oscar. “O Brutalista” e “Anora”, outros filmes indicados, enfrentaram críticas nas redes sociais por diferentes razões.
A indicação de Fernanda Torres, atriz brasileira, também gerou atritos. Sua base de fãs atacou Gascón, e posteriormente, um vídeo de Torres se apresentando em blackface em 2008 foi resgatado, exigindo dela um pedido de desculpas.
Nem todas as polêmicas online afetam diretamente a votação do Oscar. Filmes como “Green Book” e “Três Anúncios para um Crime” já enfrentaram críticas semelhantes e, mesmo assim, venceram prêmios. “Emilia Pérez”, apesar de críticas online por sua abordagem de questões trans e da cultura mexicana, é considerado por muitos eleitores como um filme ousado e progressivo.
No entanto, o impacto das declarações de Gascón é considerado inevitável por membros da Academia e figuras da indústria. A Variety chamou a atriz de “Donald Trump da temporada do Oscar”, indicando a gravidade da situação para a campanha de “Emilia Pérez”.
Com menos de um mês para a cerimônia (2 de março), a Netflix redirecionou a campanha para Zoe Saldaña, co-estrela de Gascón, considerada forte candidata ao Oscar de Atriz Coadjuvante. O futuro da premiação de melhor filme para “Emilia Pérez”, porém, permanece incerto.
Este episódio provavelmente modificará a condução de campanhas de prêmios. A falta de preparação da Netflix e da assessoria de Gascón para lidar com a repercussão das postagens antigas é surpreendente. A limpeza de imagem nas redes sociais antes da premiação deve se tornar mais comum no futuro.
Os estrategistas do Oscar, e a própria Gascón, precisarão aprender com isso. A própria atriz, em entrevista anterior, abordou a questão do preconceito: “E até eu, talvez sem nem saber, tenho algum preconceito ou critico algumas comunidades porque todos nós fazemos isso”.
Via InfoMoney