A Caminho da Gradiente, marca icônica nos lares brasileiros entre 1970 e 1980, viu seus produtos, como rádios e toca-fitas, dominarem as salas de estar. Fundada por estudantes da USP em 1964, a empresa viveu seu auge impulsionada por políticas de incentivo à indústria nacional, restringindo importações e fomentando a produção local. Mas, qual foi a trajetória dessa gigante nacional?
Em 1974, a Gradiente se instalou na Zona Franca de Manaus, após ser adquirida por Émile Staub. Curiosamente, a principal fonte de receita da empresa até hoje provém dessa unidade, mesmo sem fabricar outros produtos ali. Eugênio Staub, filho de Émile, assumiu a presidência e hoje preside o conselho da empresa.
A empresa, impulsionada pela reserva de mercado, expandiu-se rapidamente. Em 1974, abriu seu capital na Bolsa brasileira e, um ano depois, já operava no México. Em 1979, adquiriu a Garrard, empresa inglesa de toca-discos, e incorporou a Polyvox, sua maior concorrente no mercado de equipamentos de som no Brasil. A Gradiente também adquiriu marcas como a Telefunken, fabricante de televisores.
A Gradiente também fez história no mundo dos videogames. Em 1983, ingressou no segmento com o Atari 2600. Dez anos depois, criou a Playtronic, em parceria com a Estrela, tornando-se a única fabricante autorizada da Nintendo fora do Japão.
A reabertura comercial do Brasil nos anos 1990 trouxe forte concorrência externa, especialmente da Ásia, impactando a empresa. Apesar de ter atingido um faturamento de R$ 1 bilhão em 1998, a Gradiente enfrentou uma crise.
Para se capitalizar, a Gradiente vendeu sua participação na joint venture NGI para a Nokia em 2000, por US$ 415 milhões. Em 2005, adquiriu a Philco do grupo Itaú, mas vendeu a marca em 2007.
Em 2018, a Gradiente entrou em recuperação judicial. Para pagar seus credores, vendeu ativos e licenciou sua marca para uma importadora, recebendo royalties.
Desde o fim da recuperação judicial em 2023, a locação de galpões em Manaus se tornou a principal fonte de receita da empresa. Em 2024, a Gradiente lançou uma estratégia de expansão no setor de energia solar, visando alcançar 10% do mercado.
A Gradiente travou uma batalha judicial com a Apple pelo uso da marca “iPhone” no Brasil. A empresa brasileira registrou o nome em 2000, antes do lançamento do smartphone da Apple. O caso se arrastou por anos, envolvendo negociações entre as empresas.
Em 2024, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) manteve a decisão de primeira instância, negando o pedido da Gradiente para anular o registro da marca da Apple no Brasil. O mesmo tribunal analisou outro processo, no qual a Apple solicitava a caducidade do registro “G Gradiente iPhone”.
O Supremo Tribunal Federal (STF) está avaliando se a Apple pode ter a propriedade exclusiva da marca iPhone no Brasil, enquanto a Gradiente busca manter seu direito de uso. A Caminho da Gradiente, portanto, é marcada por inovação, adaptação e disputas legais em busca de um novo horizonte.
Via InfoMoney