A Estreia da JBS na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) marca um novo capítulo na história da companhia. A gigante brasileira de alimentos busca atrair investidores globais e se aproximar de seus concorrentes internacionais, como a Tyson Foods. Este movimento estratégico, que mantém a negociação de BDRs na B3, representa uma aposta no mercado internacional e na valorização de suas ações.
O mercado financeiro já esperava a listagem da JBS nos Estados Unidos. Agora, a atenção se volta para os próximos passos da empresa. Segundo Leonardo Alencar, analista da XP Investimentos, a efetivação da listagem ocorrerá somente em dezembro de 2026. Até lá, o preço da ação refletirá mais o fluxo do processo do que os próprios fundamentos da empresa.
Os fundamentos da JBS são um dos seus maiores trunfos para conquistar o mercado global. A diversificação geográfica e de proteínas reduz a volatilidade dos resultados, o que é um ponto crucial para atrair investidores. A JBS se destaca como uma commodity com resultados consistentes. Em 2024, a empresa teve um desempenho excelente, e a expectativa para 2025 é positiva, mesmo com margens possivelmente menores.
O grande desafio da JBS é convencer o mercado americano de que merece uma avaliação mais alta. Atualmente, a JBS opera com um múltiplo de 4,5 vezes o seu valor de mercado/Ebitda. Enquanto isso, a Tyson Foods negocia a 6 vezes, e a Hormel, focada em processados, a 12 vezes. A JBS espera que, ao se aproximar dos investidores internacionais, ocorra uma reavaliação gradual do seu valor de mercado.
A liderança da JBS demonstra otimismo em relação ao futuro. Gilberto Tomazoni, CEO da empresa, afirmou que a listagem aumentará a visibilidade internacional e fortalecerá a posição da JBS como líder global. Guilherme Cavalcanti, CFO, destacou que a base de acionistas estrangeiros já aumentou de 65% para 80%, e que o spread da dívida diminuiu em antecipação à mudança.
Wesley Batista, acionista controlador e conselheiro da JBS, ressaltou que o múltiplo nos EUA é infinitamente superior, tornando a presença no maior centro financeiro do mundo transformacional. Após a consolidação da listagem, a JBS almeja a inclusão no S&P 500. Para isso, será necessário aumentar o free float, que é a fração de ações disponíveis para negociação no mercado. A empresa espera entrar no índice Russell em junho de 2026 e no S&P 500 em um momento posterior.
A JBS também sinaliza que a maior liquidez pode abrir novas oportunidades para aquisições. Batista afirmou que crescer faz parte do DNA da empresa, citando alimentos industrializados como pizzas e margarinas como possíveis focos de expansão. A listagem na NYSE, com acesso a um volume de recursos detido pelos maiores fundos de investimento dos Estados Unidos, cria condições favoráveis para a JBS.
O caminho da JBS até a NYSE não foi isento de controvérsias. A empresa enfrentou resistência de grupos ambientalistas e críticas de políticos americanos. Consultorias de governança como ISS e Glass Lewis recomendaram que acionistas votassem contra a reestruturação, embora o fundo Mason Capital tenha defendido a operação como uma oportunidade multibilionária.
O analista da XP, Leonardo Alencar, lembra que o processo foi longo e incerto. A expectativa da empresa existia há muito tempo, mas faltava o aval da SEC (a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos). Havia também a dúvida sobre a posição do BNDES, que no passado se opôs, mas acabou se abstendo na votação decisiva.
O desafio da JBS agora é equilibrar as promessas de valorização com a necessidade de provar que sua diversificação e governança estão à altura dos padrões globais. Alencar resume que ainda estamos no começo, e o verdadeiro teste virá quando os investidores focarem nos fundamentos da empresa.
O início da negociação das ações da JBS na NYSE representa um marco importante para a empresa, mas também um período de avaliação e adaptação. O sucesso a longo prazo dependerá da capacidade da JBS de demonstrar solidez e potencial de crescimento no mercado global.
Via InfoMoney