Um ano após a devastadora catástrofe climática no Rio Grande do Sul, um estudo da Agência Nacional de Águas (ANA) alerta: eventos similares podem se tornar cinco vezes mais frequentes. A pesquisa “As Enchentes no Rio Grande do Sul: lições, desafios e caminhos para um futuro resiliente” projeta cenários preocupantes para as cheias na região. O estudo indica a necessidade urgente de adaptação e investimentos em infraestrutura.
A ANA revela que eventos extremos, antes esperados a cada 50 anos, agora devem ocorrer a cada década, com maior intensidade. As vazões dos rios gaúchos podem aumentar em 20% sobre os níveis máximos atuais. Isso coloca o Rio Grande do Sul como a área do Brasil com maior risco de enchentes mais severas e frequentes. Este cenário é resultado das mudanças climáticas e da vulnerabilidade das bacias hidrográficas do estado.
Cidades como Porto Alegre, Guaíba, Eldorado do Sul, Pelotas e Rio Grande enfrentarão níveis de água até um metro acima do limite de proteção atual. Em regiões serranas, rios como Taquari e Jacuí podem subir até três metros além do limite, exigindo o redimensionamento de diques, comportas e barragens. O relatório da ANA enfatiza a urgência em reavaliar os parâmetros de obras hidráulicas e sistemas de alerta.
Apesar da urgência, a burocracia atrasa as obras de proteção. O edital para atualizar o projeto de proteção contra cheias em Eldorado do Sul, orçado em R$ 531 milhões, foi publicado recentemente. A conclusão dos projetos e estudos ambientais deve levar mais de seis meses, deixando a população vulnerável por mais dois ciclos de chuvas intensas.
A questão habitacional também é crítica. Milhares de moradias foram destruídas ou danificadas pelas chuvas de 2024. Muitas famílias ainda vivem em abrigos temporários ou com parentes, um ano após o desastre. Das quase 500 cidades gaúchas, 478 foram afetadas, impactando 2,4 milhões de pessoas. Houve 183 mortes, 27 desaparecidos, 806 feridos e mais de 15 mil casos de leptospirose. Os prejuízos econômicos, incluindo perdas agrícolas e danos à infraestrutura, chegam a bilhões de reais.
A ANA defende medidas urgentes, como reassentamento de comunidades, mapeamento de vulnerabilidades e implementação de infraestrutura. Sistemas de drenagem, barragens, pontes, estradas e sistemas de água e energia precisam ser reavaliados. O estudo destaca a importância da pesquisa acadêmica local na gestão de crises e a necessidade de investimentos em monitoramento e modelagem. A tragédia de 2024 serve como alerta para o futuro climático do Rio Grande do Sul, um futuro que já começou. As enchentes no Rio Grande do Sul exigem ações imediatas e eficazes para mitigar seus impactos.
Via Exame