A história da Bench Accounting ilustra como a busca incessante por inovação, especialmente através da falência com IA, pode levar uma fintech promissora à ruína. A empresa, que aspirava revolucionar a contabilidade para pequenas empresas, viu sua trajetória de sucesso se desfazer após investir pesadamente em automação baseada em inteligência artificial. O caso serve como um alerta sobre os riscos de apostar todas as fichas em tecnologias emergentes sem considerar os desafios internos e as necessidades dos clientes.
A Bench Accounting, após captar mais de US$ 100 milhões em financiamento, decidiu apostar na IA para otimizar suas operações. A estratégia incluiu a demissão de funcionários e a introdução de programas de automação, como o BenchGPT. No entanto, a implementação da IA não trouxe os resultados esperados, culminando em um ano fiscal problemático em 2023, com diversos clientes tendo que solicitar extensões.
A situação se agravou em 2024, quando a Bench informou aos clientes que não poderia honrar seus compromissos financeiros. Em janeiro de 2025, a empresa declarou falência, impactando investidores e deixando clientes em uma situação delicada. Um “comprador serial”, Jesse Tinsley da Employer.com, viu na crise uma oportunidade e adquiriu os ativos da Bench, prometendo recontratar contadores e adotar uma abordagem mais tradicional.
Internamente, a Bench enfrentava desafios que iam além da implementação da IA. Ex-executivos relataram que, apesar de um crescimento de 40% ao ano e uma receita de US$ 35 milhões em 2021, a empresa ainda não era lucrativa. A alta rotatividade de clientes e os investimentos em automação exigiam um fluxo constante de capital. Em 2021, o então CEO Ian Crosby negociou uma oferta de aquisição, mas optou por captar mais recursos e expandir para serviços bancários, uma decisão que gerou conflitos com o conselho.
A implementação de IA, liderada pelo CEO Jean-Philippe Durrios, visava aumentar a eficiência dos contadores, dividindo-os em equipes especializadas e fornecendo ferramentas de IA. Contudo, a ferramenta interna BenchGPT mostrou-se pouco confiável, e um chatbot para clientes frequentemente apresentava imprecisões. A reestruturação e as demissões resultaram em atrasos nos prazos de entrega e na necessidade de recontratar contadores, agravando a crise financeira.
Em meio à escassez de caixa, a Bench buscou financiamento adicional e uma linha de crédito do Banco Nacional do Canadá. No entanto, a empresa não conseguiu cumprir os termos do acordo, levando à substituição de Durrios por Adam Schlesinger e à busca por um comprador. A falência com IA deixou um déficit acumulado de US$ 135 milhões, com investidores enfrentando perdas significativas.
A queda da Bench serve como um importante lembrete dos perigos de superestimar o potencial da IA e negligenciar os fundamentos de um negócio sólido. A busca por soluções tecnológicas inovadoras deve ser equilibrada com uma gestão financeira prudente e uma compreensão profunda das necessidades dos clientes.