A série “Adolescência” trouxe à tona o universo dos O que são incels, homens que se autodenominam “celibatários involuntários”. Esse ambiente virtual, marcado por misoginia e frustração, tem raízes que remontam ao início do século e está presente no Brasil, influenciando jovens e adolescentes. Entenda como funciona essa comunidade e seus principais termos.
Estudiosos definem os incels como comunidades online de homens heterossexuais que se sentem incapazes de atrair mulheres. Eles frequentemente atribuem essa falta de sucesso à sua aparência física, inferioridade biológica, falta de riqueza ou habilidades sociais. A frustração inicial se transforma em ódio e acusações contra as mulheres, descritas como manipuladoras e interessadas apenas em homens atraentes.
Especialistas alertam para o risco de violência e radicalização propagados pelos incels. Eles são considerados um dos subgrupos mais perigosos da “machosfera”, uma rede virtual que dissemina visões extremistas de masculinidade. “São grupos organizados que veem a mulher como o grande problema da sociedade”, explica a cientista política Bruna Camilo, que monitorou interações de incels brasileiros no Telegram.
Nos EUA, o extremismo misógino dos incels é considerado uma ameaça nacional. No Brasil, eles inspiram grupos que compartilham ideologias de extrema direita e um vocabulário próprio. Um relatório do Ministério dos Direitos Humanos classificou os grupos masculinistas, incluindo os incels, como fontes de discurso de ódio e extremismo online.
Os incels brasileiros migraram para plataformas como TikTok, Instagram, YouTube e Discord, onde suas ideias se espalham entre adolescentes e adultos. Seus membros nem sempre se identificam abertamente como incels, mas reproduzem suas ideias e termos em discussões privadas.
Entre os termos mais usados pelos incels brasileiros, destacam-se expressões pejorativas para se referir a mulheres feministas e conservadoras. A pesquisadora Bruna Camilo também identificou apoio a figuras da extrema direita e a glorificação de casos de violência contra mulheres.
Segundo a cientista política, muitos incels são jovens com dificuldades de socialização que buscam aceitação e pertencimento na internet. “Isso é muito comum na adolescência, porque é uma fase de transformação”, afirma Camilo.
O termo incel surgiu nos anos 1990, quando uma jovem canadense criou um site para compartilhar suas dificuldades em encontrar um relacionamento. O objetivo era se conectar com outras pessoas solitárias, mas a ideia foi apropriada por homens frustrados e deu origem ao movimento incel.
Em 2021, um relatório da União Europeia revelou que a nacionalidade mais comum nos fóruns incels era a alemã, com membros demonstrando sentimentos de inferioridade em relação a homens brancos e loiros. Na França, os usuários expressavam ressentimento em relação aos direitos das mulheres, acreditando que o país se tornara “hiperfeminista”.
No universo incel, existem arquétipos como “Stacy” (mulher superficial e promíscua) e “Chad” (homem popular e musculoso). A “regra 80/20” afirma que 80% das mulheres se atraem por 20% dos homens, o que justificaria o insucesso romântico dos incels. Ao perceber essa “realidade”, o homem “engole a pílula vermelha” (redpill) e adota os preceitos do movimento. Uma versão mais radical é a “pílula preta” (blackpill), que ganha espaço no Brasil.
Uma pesquisa britânica revelou que uma minoria de incels apoia a violência, enquanto um relatório da UE apontou que as plataformas mais populares são menos propensas à violência do que fóruns específicos. Especialistas defendem que a melhor forma de combater o fenômeno incel é através do apoio à saúde mental. Estudos mostram que incels sofrem de depressão, ansiedade, pensamentos suicidas e solidão, além de apresentarem traços de autismo.
Terapias especializadas podem ajudar a “interromper o viés de confirmação que alimenta crenças tóxicas” dos incels, segundo o pesquisador Andrew Thomas. Os autores do relatório da UE recomendam a criação de programas para alcançar os incels na internet e oferecer espaços alternativos para discussões sobre relacionamentos e rejeição.
A complexidade do fenômeno O que são incels reside na sua capacidade de misturar frustrações pessoais com ideologias extremistas. O enfrentamento dessa questão demanda uma abordagem multidisciplinar, que envolva desde o apoio psicológico individual até a criação de políticas públicas que promovam a igualdade de gênero e combatam o discurso de ódio online.
Via G1