A Garota da Agulha, filme dinamarquês, concorre ao Oscar de Melhor Filme Internacional. A produção, disponível na plataforma Mubi, é uma forte concorrente de Ainda Estou Aqui e outros filmes internacionais. Sua trajetória inclui uma apresentação no Festival de Cannes, em maio de 2024, onde disputou a Palma de Ouro.
Dirigido pelo sueco Magnus von Horn, o longa se passa em Copenhague, após a Primeira Guerra Mundial. A trama acompanha Karoline, uma trabalhadora têxtil que enfrenta dificuldades após o conflito. Desempregada e grávida, ela se envolve com uma personagem inspirada em uma famosa serial killer dinamarquesa: Dagmar Overbye.
O filme utiliza o preto e branco e se inspira no expressionismo alemão para retratar o sofrimento da Europa pós-guerra. A estética sombria e as atuações intensificam a angústia do período histórico. Essa estética também remete a gêneros como terror e noir, como visto em Nosferatu.
Dagmar Overbye, na vida real, assassinou diversas crianças em Copenhague entre 1913 e 1920. Ela lucrava como intermediária em adoções ilegais, matando as crianças entregues a ela. Sua crueldade lhe rendeu o apelido de “Angel Maker” (criadora de anjos). A ausência de registros precisos de nascimento e adoção dificultou a descoberta de seus crimes.
Karoline, a protagonista, é uma personagem fictícia. Ela se baseia em uma mulher que denunciou Dagmar após se arrepender de ter dado seu bebê à criminosa. Overbye confessou 16 assassinatos, mas o número real é provavelmente muito maior. Condenada à morte, sua pena foi comutada para prisão perpétua. Ela faleceu na prisão em 1929.
O método cruel de Dagmar incluía enforcamento, afogamento e queima. Muitos corpos foram encontrados em sua casa. Os detalhes dos crimes e a transcrição do julgamento, com 122 páginas, inspiraram o roteiro do filme, escrito por von Horn e Line Langebek. A repercussão do caso levou a Dinamarca a fortalecer leis sobre registros de nascimento em 1924. Isso resultou em um sistema de cadastro mais eficiente até os dias de hoje.
Enquanto na realidade os motivos de Dagmar parecem puramente financeiros, o filme adiciona complexidade a sua personalidade. A personagem apresenta um turvo senso de justiça, assumindo o “trabalho sujo” das mães que abandonam seus filhos. No entanto, em nenhum momento suas ações são justificadas ou minimizadas.