Gêmeos transformam briga com torcida organizada em negócio de R$ 15 milhões

Conheça a história dos gêmeos que transformaram uma briga com torcida organizada em um negócio milionário no Brasil.
03/05/2025 às 09:49 | Atualizado há 5 meses
Licenciamento de vídeos virais
Gêmeos da Myhood transformam vídeos virais em negócio com direitos autorais e hard news. (Imagem/Reprodução: Exame)

Tudo começou com um vídeo sobre futebol. Felipe Salvatore queria mostrar, com dados, qual era o melhor time do Brasil. O vídeo viralizou, sendo copiado sem autorização por torcidas organizadas. Essa experiência levou Felipe e seu irmão gêmeo, Alexandre, a criar a Myhood, uma plataforma de licenciamento de vídeos virais.

A Myhood funciona como uma agência de licenciamento, conectando criadores de conteúdo com veículos de mídia e marcas. A plataforma rastreia vídeos virais, negocia direitos autorais e oferece aos clientes conteúdo legalizado e pronto para uso. Inclui créditos, autorização, data, local e até pauta.

A empresa atende grandes portais como G1, Metrópoles, Jovem Pan e R7, além de marcas como Ambev e Skol. Com mais de 10 mil vídeos licenciados, a Myhood projeta um faturamento de R$ 15 milhões para 2025. O licenciamento de vídeos virais resolve o problema do uso não autorizado de conteúdo gerado por usuários, comum em redes sociais.

Felipe explica que a ideia era mudar a prática de repost sem autorização, mas sem ser “os chatos do direito autoral”. A Myhood criou um sistema que beneficia todos. O criador recebe parte do lucro, o portal garante segurança jurídica e o conteúdo é otimizado para as redes.

Alexandre destaca o engajamento dos vídeos da Myhood no Metrópoles, que publica cerca de 200 posts diariamente. Os 30 vídeos licenciados estão entre os que mais geram interação. A plataforma oferece até 40 sugestões de vídeos por dia, considerando viralização e relevância. Os criadores são remunerados automaticamente, com base no uso dos vídeos. Os clientes pagam assinatura mensal com acesso ilimitado ao acervo.

Em 2020, durante o mestrado em economia, Felipe e Alexandre tiveram a ideia da Myhood. Após o incidente com o vídeo de futebol, Felipe estudou a legislação de direitos autorais. Percebeu que derrubar vídeos não resolvia o problema. Era preciso criar uma estrutura que protegesse criadores e ajudasse os portais.

A Myhood surgiu para atender à demanda de criadores que buscam reconhecimento e monetização, e de publishers que precisam de conteúdo legalizado. Alexandre compara o nome da empresa à ideia de Robin Hood: “tirar de quem usa sem crédito e dar aos criadores, mas no fim, todos ganham”.

A Myhood une tecnologia, curadoria e processos jurídicos. Um sistema monitora vídeos em alta. Jornalistas analisam o material, verificam informações e contatam o criador. Alexandre ressalta que somente vídeos com autoria comprovada entram na base de dados. A empresa checa tudo para garantir a veracidade do conteúdo, transformando-o em “pauta pronta”.

Os criadores recebem 50% da receita gerada com seus vídeos. Portais pagam uma mensalidade, variável conforme a audiência, para acesso ilimitado aos vídeos. A Myhood possui tecnologia para rastrear o uso indevido de conteúdo, com equipe jurídica para atuar, se necessário.

Apesar do sucesso com grandes clientes, a empresa enfrenta resistência. Alexandre menciona perfis que lucram com reposts e criticam a Myhood. Alguns chegam a atacar a empresa em grupos de WhatsApp. Os irmãos também apontam para a necessidade de educar o mercado sobre direitos autorais. Muitos profissionais de mídia ainda desconhecem a necessidade de autorização para uso de vídeos.

Mesmo com as críticas, a Myhood nunca foi processada. Alexandre reforça que a empresa atua dentro da lei, com contratos e documentação. A resistência vem de quem quer usar conteúdo sem pagar.

O foco inicial da Myhood era conteúdo de entretenimento, as “treta news”. Para 2025, o plano é expandir para notícias factuais. Felipe almeja que a plataforma seja a primeira fonte em casos de acidentes, protestos ou denúncias, fornecendo vídeos verificados para o jornalismo.

A empresa investe em funcionários, automação e curadoria. A meta é tornar-se fonte primária de hard news. Alexandre cita a cobertura do Carnaval, onde vídeos da plataforma foram usados por portais, agilizando o trabalho dos jornalistas.

O modelo de negócio da Myhood já existe nos EUA e Europa. Empresas como Jukin Media e Storyful foram adquiridas por grandes grupos. Felipe destaca a Jukin, vendida por US$ 130 milhões, e a entrada da Reuters nesse mercado. No Brasil, a Myhood foi pioneira na estruturação deste mercado, antes informal e desorganizado. A ambição dos irmãos é expandir para a América Latina, Europa e África.

Via Exame

Artigos colaborativos escritos por redatores e editores do portal Vitória Agora.