A indústria de golpes digitais crescem rapidamente, causando prejuízos significativos globalmente. De acordo com o The Economist, o prejuízo anual ultrapassa US$ 500 bilhões. Um exemplo recente ilustra a sofisticação desses crimes: Edgar, um profissional de software, perdeu US$ 78 mil (R$ 450 mil) em um golpe de pig-butchering, envolvendo uma falsa corretora de criptomoedas.
O pig-butchering, ou “abate de porcos”, é uma estratégia complexa. Golpistas criam perfis falsos em redes sociais para construir relacionamentos com suas vítimas. Após ganhar a confiança do alvo, induzem-no a investir em plataformas falsas de criptomoedas. Por fim, o dinheiro é sacado, deixando a vítima com um prejuízo considerável.
O crescimento dessa indústria é alarmante. Em Singapura, os golpes digitais crescem a ponto de se tornarem o crime mais frequente. A ONU estimava quase 250 mil trabalhadores nesse setor no Camboja e Mianmar em 2023. Outra projeção aponta 1,5 milhão de pessoas envolvidas globalmente.
A dimensão do problema se compara à do tráfico de drogas. A diferença crucial é que, diferente do tráfico, os golpes digitais crescem e afetam qualquer pessoa, em qualquer lugar. As vítimas incluem profissionais de alta qualificação e até mesmo parentes de investigadores do FBI, demonstrando a eficácia das táticas usadas pelos criminosos.
Os métodos são diversos. Os golpistas exploram vulnerabilidades humanas, como medo, solidão e ganância. Manuais operacionais detalhados ensinam técnicas de manipulação emocional, visando a obtenção de lucros cada vez maiores. A utilização de malware avançado facilita o roubo de dados pessoais, potencializando os golpes.
No âmbito físico, as operações são complexas e protegidas. Os criminosos operam em grandes complexos que se assemelham a prisões e cidades empresariais simultaneamente, com estrutura para manter e torturar funcionários. A corrupção também é um fator agravante, com políticos e funcionários protegendo as atividades ilegais.
Na esfera digital, os criminosos são ainda mais difíceis de rastrear. A estrutura é descentralizada, com grupos especializados em diferentes etapas do golpe. Um grupo pode se focar na abordagem das vítimas, enquanto outros se concentram em investimentos fraudulentos e lavagem de dinheiro. Essa fragmentação torna a investigação complexa.
A inovação tecnológica é um grande aliado dos golpistas. A inteligência artificial (IA) permite a criação de deepfakes, clones de voz e imagem extremamente realistas, usados para enganar vítimas. A combinação da IA com serviços de tradução e dados roubados permite um alcance global ainda maior.
A desregulamentação das criptomoedas nos EUA pode piorar a situação. O uso de criptomoedas permite transferências rápidas e anônimas de dinheiro. Combater esses crimes requer cooperação global e uma abordagem multifacetada, envolvendo autoridades, bancos, empresas de tecnologia e plataformas de mídia social. Singapura, por exemplo, criou um centro de monitoramento para rastrear e congelar fundos em tempo real.
Combater os golpes digitais crescem eficazmente requer cooperação internacional. A movimentação de dinheiro e pessoas entre jurisdições dificulta a ação da justiça. A China, devido ao tamanho e à sofisticação de seus grupos criminosos, tem grande potencial para auxiliar na resolução desse problema. A colaboração entre os EUA e a China nessa área é crucial para enfrentar o problema.
Via Folha de S.Paulo