A recente decisão da Fifa de barrar o León do México do Mundial de Clubes da Fifa pode inaugurar uma nova era para as SAFs (Sociedade Anônima do Futebol). Afinal, qual proprietário de clube desejaria ver sua equipe impedida de participar da mais prestigiada competição de clubes do mundo? Especialistas sugerem que essa medida pode influenciar até mesmo a UEFA a reconsiderar suas regras sobre a participação de times com o mesmo dono em suas competições.
No fim da semana passada, a Fifa tomou a decisão de impedir que León e Pachuca participassem simultaneamente do Mundial, visto que ambos os times compartilham o mesmo proprietário. Essa regra impacta um modelo específico de SAFs, conhecido como Multi Club Ownership (MCO), onde uma única pessoa detém o controle de vários clubes.
Para ilustrar, o Botafogo poderia ser excluído do Mundial caso o Lyon também se qualificasse, já que ambos pertencem ao grupo Eagle, liderado pelo empresário John Textor. O Bahia enfrentaria um problema semelhante, pois faz parte do grupo City, que já tem o Manchester City como representante.
Álvaro Martin Ferreiro, especialista em Direito Internacional do Esporte, explica que a situação é complexa e depende de múltiplos critérios estabelecidos pela Fifa, mas reconhece que os clubes brasileiros correm riscos nesse cenário. A potencial exclusão dependeria da porcentagem de propriedade e da influência efetiva do proprietário sobre as decisões dos clubes.
Além das questões esportivas, o fair play financeiro em MCOs é um tema de debate constante. A possibilidade de transferências de jogadores entre clubes do mesmo dono, com valores definidos arbitrariamente, burla qualquer controle financeiro das competições.
Na França, o Lyon tem sido alvo de discussões devido a suas práticas financeiras. A equipe de Textor utiliza transferências do Botafogo para contornar possíveis sanções da liga francesa, levantando a possibilidade de uma cláusula “anti-Textor” entre os competidores.
A Fifa está atenta a esses debates e reconhece a necessidade de intervir para regular a questão, considerando as diferentes legislações em cada país que as MCOs exploram. A expectativa é que a Fifa fortaleça as regulamentações da MCO, com critérios mais rigorosos sobre limites de propriedade, independência de gestão e transparência financeira.
Como medida de proteção, Ferreiro sugere que as ligas adotem estruturas regulatórias claras que abordem os riscos da propriedade compartilhada, exigindo total transparência nas estruturas de propriedade, limitando a porcentagem de propriedade em vários clubes dentro da mesma liga e restringindo direitos de voto em casos de interesses sobrepostos.
É possível que os proprietários mantenham suas equipes sob o mesmo guarda-chuva, mas a regulação pode reduzir consideravelmente as vantagens de possuir uma rede de clubes. Um efeito similar foi observado no Brasil com a drástica redução do número de casas de apostas após a regulamentação do setor.
Via InfoMoney