A possível imposição de uma tarifa sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos pode trazer consequências negativas para o agronegócio nacional. O alerta foi emitido pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, indicando possíveis desequilíbrios no mercado e pressão sobre os preços pagos aos produtores. Setores como o de suco de laranja, café, pecuária de corte e frutas frescas podem ser diretamente afetados.
O setor de suco de laranja é apontado como o mais vulnerável. A aplicação de uma sobretaxa de até 50% se somaria à tarifa fixa já existente de US$ 415 por tonelada, elevando o custo de entrada nos EUA e impactando a competitividade do produto brasileiro, que tem nos Estados Unidos seu segundo maior destino.
Os Estados Unidos importam cerca de 90% do suco de laranja que consomem, sendo o Brasil responsável por 80% desse total. A professora Margarete Boteon, pesquisadora do Cepea, ressalta que essa instabilidade ocorre em um momento de boa safra em São Paulo e no Triângulo Mineiro, com uma projeção de 314,6 milhões de caixas para 2025/26.
Quanto ao café, os Estados Unidos são o maior consumidor global e importam cerca de 25% do Brasil, especialmente a variedade arábica. O pesquisador do Cepea, Renato Ribeiro, destaca que a elevação do custo de importação pode comprometer a viabilidade de toda a cadeia interna americana, incluindo torrefadoras, cafeterias e redes de varejo. A exclusão do café do pacote tarifário seria estratégica para a sustentabilidade da cafeicultura brasileira e a estabilidade do abastecimento norte-americano.
A tarifa sobre produtos brasileiros pode afetar a carne bovina. Os Estados Unidos são o segundo maior comprador da carne bovina brasileira, respondendo por 12% das exportações. Em um possível movimento de formação de estoque, as empresas americanas adquiriram volumes recordes de carne bovina entre março e abril.
O mercado de frutas frescas também deve sentir os impactos da tarifa sobre produtos brasileiros. A manga é a fruta mais sensível, com relatos de adiamento de embarques devido à indefinição tarifária. A uva brasileira também entra em estado de alerta, com a safra tendo um calendário relevante para os EUA a partir da segunda quinzena de setembro.
Diante desse cenário, o Cepea defende uma articulação diplomática coordenada para a revisão ou exclusão das tarifas sobre produtos agroalimentares brasileiros. A medida seria estratégica para ambos os países, já que a segurança alimentar e a competitividade da agroindústria americana dependem do fornecimento brasileiro.
Via InfoMoney